Eu, você e ela

Na beleza de nossos raros momentos noturnos, uma taça de vinho nos acompanha largada num canto qualquer do quarto silencioso e revirado.

Na calma perfeita de uma noite a sós, desfrutamos um do outro com a paixão ardente de toques avassaladores e de beijos ardentes.

No brilho dos nossos corpos suados, o desejo transborda em sons e gemidos mútuos, quebrando o silêncio que nos guardava.

Intempestivamente ela surge atabalhoada, invejosa em tentativas infindáveis de atrapalhar o caminho caloroso que juntos percorremos.

Observa, ataca e refaz seu revoar sobre nossos corpos, pousando inquieta no suor gotejante, expelido pelo prazer crescente de nosso ir e vir.

Incansavelmente, tenta atrapalhar nossos movimentos, nosso ato contínuo de partilhar o doce prazer do desejo satisfeito.

Não nos preocupamos com suas insistentes tentativas de nos tocar, decidimos deixa-la presenciar a troca de calor de nossas bocas, de nossas línguas e de nossos corpos.

Voyeur que não se contenta em observar, invejosa de nosso calor, continua sua tentativa em participar de nossos íntimos momentos.

No auge do nosso desejo, esquecemos completamente de tão inoportuna observadora e nos deixamos atingir o gozo pleno.

Inexplicavelmente, como atingida por uma intensa frustração, retira-se sorrateiramente, nos deixando descansar de tão prazerosa jornada. Assim, não mais a encontramos na penumbra silenciosa da madrugada ardente.

Ela partiu tão intempestivamente como entrou. Uma mosca invejosa!