ENTRE O TER E O SER

Parece que no seu interminável conflito, o TER vai levando o SER de vencida neste mundo, sobretudo em sociedades como a brasileira, em que um presidente semi-analfabeto se gaba, publicamente, de não possuir curso algum, de ter tido uma mãe analfabeta e de não falar nenhum idioma estrangeiro. Quando o mais adequado seria usar o seu exemplo para mostrar o quanto foi difícil chegar até onde chegou, justamente por não haver estudado.

Num mundo globalizado em que a competição anda de braços dados com a competência, onde vence a primeira quem dispuser, em maior escala, da segunda, o presidente do Brasil exercita o “achismo” à larga, sem compromisso com as consequências das palavras que pronuncia no exercício do cargo. Comete gafe em cima de gafe e faz afirmações levianas, como esta recente, de dizer os culpados pela crise mundial “são pessoas brancas, de olhos azuis”.

Pensa que, com declarações deste tipo, vai ganhar pontos e popularidade com negros e outras etnias, mas não faz mais do que estimular uma discriminação ao contrário, que não ajuda, em nada, à integração racial na sociedade brasileira e no imaginário de todas as raças, que devem e precisam coexistir com inteligência e respeito neste país.

O descompromisso do presidente brasileiro com a verdade e o bom senso, é uma de suas características mais conhecidas e sobejamente evidenciadas, em episódios anteriores a este. Como, por exemplo, naquele em que justificou a compra, pelo seu filho, de uma propriedade de 47 milhões de reais, ganhando, como ganhava, até recentemente, mil e quinhentos reais por mês. A explicação do “papai barbudo” foi a de que o filho era “um Ronaldinho nos negócios”: um verdadeiro fenômeno! E nada mais disse, nem lhe foi perguntado.

O presidente Lula também fez muito proselitismo com a eleição do presidente Obama, nos Estados Unidos, usando isto em seus discursos, para platéias que ele considera de trabalhadores e mestiços. É verdade... A eleição do presidente Obama tem um significado especial, em seu país e no mundo. Mas o que o presidente brasileiro deveria dizer, mas não diz, é que o presidente Barak Obama é um homem que se qualificou, casado com uma mulher que se qualificou, ambos em excelentes universidades norte-americanas. Deve ser por isto que, em sua vida parlamentar, o de lá foi tão produtivo, enquanto o de cá não produziu absolutamente nada!

Mas retomando a contenda entre o TER e o SER, uma das coisas que se pode dizer em favor do SER, é que ele permite uma plenitude, que o TER jamais assegura a qualquer pessoa. Um ser humano pode, por exemplo, ter quase tudo, mas não conseguir ser espirituoso, ou refinado, ou sutil, ou querido pelos que convivem com ele. Enquanto quem é, verdadeiramente, sempre será e será para sempre.

Poder é algo se vai, por vezes, mais depressa do que foi obtido. Dinheiro é algo que se esvai, em geral, em menos tempo do que se levou para conseguí-lo. Mas aquilo que somos é algo enraizado em nós mesmos, uma qualidade intrínseca da nossa natureza ou adquirida, em decorrência da nossa formação. E considerando isto de forma positiva, é uma riqueza que nos pertencerá para todo o sempre.

Devemos tentar mostrar essas coisas àqueles em cuja formação nós pudermos influir de alguma forma. Vale dizer, aos nossos filhos e alunos. Posto que o SER é um bem da vida. E devia estar pensando nisto aquela professora, que ministrava aos seus alunos uma aula sobre as diferenças entre os ricos e os pobres, tentando demonstrar que, por mais que uma pessoa possuísse bens materiais, ela nunca teria tudo.

Foi quando uma aluna, a Júlia, levanta o dedo:

— Senhora, meu pai tem tudo: TV, telescópio, DVD, Mercedes...

— Tudo bem, diz a professora, mas será que ele tem uma lancha?

Júlia reflete e diz:

— Bem, uma lancha ele não tem.

A professora disse:

— Viu, não podemos ter tudo.

— Professora, disse Artur, meu pai tem tudo: TV, telescópio, DVD, Mercedes, lancha...

— Sim, responde a professora, mas será que tem um avião particular?

Depois de refletir um pouco, o Artur também responde:

— Não, um avião particular, ele não tem.

— Está vendo como não se pode ter tudo na vida? Disse a professora.

Joãozinho levanta o dedo e diz:

— Professora, o meu pai é poderoso e agora tem tudo! Pois sábado passado, quando minha irmã apresentou o namorado dela, torcedor do Corinthians, tatuado e de bonezinho, com a beirada da cueca aparecendo, o papai falou prá nós:

— PUTA QUE O PARIU! ERA SÓ O QUE ME FALTAVA!

Como ficou demonstrado, mesmo aqueles que preferem o TER ao SER, não podem mesmo ter tudo... Ora, pois!