Uma ligação íntima na “Cabana”

“ – Considere nosso amiguinho aqui – começou ela. – A maioria dos pássaros foram criados para voar. Para eles, ficar no solo é uma limitação de sua capacidade de voar, e não o contrário (...). Você, por outro lado, foi criado para ser amado. Assim, para você, viver como se não fosse amado é uma limitação, e não o contrário”. (“A Cabana”, p. 87). Poderíamos imaginar que essas palavras viriam de Deus? O que dizer de um livro do qual podemos extrair lições sobre Deus e o amor, tão mais acessíveis a nós do que uma narração puramente teológica?

São raros os livros um dia lidos por nós que ao terminarmos, outros sentimentos não há diferente daquele ao qual as lágrimas são expressão visíveis de nossas emoções mais interiores. Chorar após ler uma história fictícia, com a sensação de que muitas partes são reais, mas recheadas de temas em sua maioria presentes em nossa vida, sem respostas convincentes sobre Deus, dor, solidão, culpa, perda, alegria, amor, etc., é a atitude mais natural de quem leu por inteiro “A Cabana”. Como se não bastasse vislumbrá-lo como uma leitura qualquer, a história contada no livro “deve ser lida como se fosse uma oração – a melhor forma de oração, cheia de ternura, amor, transparência e surpresas” (Michel W. Smith, na contracapa do livro).

Um homem, ‘Mack’, recebe a graça de entrar em contato imediato com Deus. De fato, ele não acredita inicialmente, acha uma brincadeira de mau gosto, quando encontra um bilhete. Todavia a trama vai se desenrolando até transmitir ao leitor sensações e definições sobre Deus muito profundas e partícipes de uma Teologia voltada para a intimidade com Deus. A veia teológica ortodoxa antiga existe, mas a linguagem usada para transmiti-la é de uma originalidade feliz do escritor. Empreender uma viagem magnífica de sentimentos e idéias espirituais parece-nos ser a intenção de Willian P. Young (autor de “A Cabana”) desde o início da leitura do livro.

Escrito em 2007 nos Estados Unidos e lançado no Brasil ano passado, “A Cabana” já foi lido por mais de cem mil pessoas (apenas em nosso país e quatro milhões em todo o mundo. Dados de 2008). Contudo, muitos ainda desconhecem essa “espiritual” obra de ficção, mas que consegue promover um eco do real com o imaginário, de tal forma a nos dar ensinamentos práticos para a nossa própria vida. Tanto nas relações humanas, quanto divinas, o ato de perdoar e agradecer estão intimamente ligados e fazem parte central do livro e de nossa condição humana. Sem essas ambas faculdades, estamos sujeitos a não reconhecer Deus, a deixarmos de amar e assim de sermos felizes.

Tanto a obra “O Segredo”, quanto “Conversando com Deus” ou remontando a São João da Cruz, no século XV, em seu “Cântico Espiritual”, já trazem muito das observações presentes na “A Cabana”. O diferencial se encontra no contato desprovido de protocolo, rituais ou formais do homem para com Deus. Papai, Jesus e Espírito Santo se tornam verdadeiros amigos íntimos, entre si e com Mack ou ainda, com o próprio leitor.

Fazendo algumas ressalvas sobre certos pontos-de-vista do autor, o conjunto das mensagens retrata o que de fato deveria existe no cristianismo: um relacionamento tal com Deus a ponto de transbordar na convivência fraterna (quiçá, até mesmo romântica) com seus filhos e filhas, numa simplicidade e presença divina verdadeiramente viva e freqüente quanto é o ato de alimentar o nosso corpo. Deus está tão perto de nós, que na realidade não está: Ele vive! E isso não é algo extraordinário, faz parte da essência de todo ser humano, quer acredite ou não na Trindade.

São João da Cruz a respeito da união da alma humano com Deus fala de “matrimônio espiritual”, no qual “nele se entregam ambas as partes por inteira possa de uma a outra, com certa consumação de união de amor, em que a alma é feita toda divina, e se torna Deus por participação, tanto quanto é possível nesta vida” (Cânt. Espiritual XXII).

Saber mais sobre o que há no livro, só lendo mesmo! Uma boa conversão! [Para Espírito por Missy]