Tormento

Acabo de ler o livro de Antonio Maria Santiago Cabral. “Conseguindo minha vida de volta”. Rico na essência, no fluir das palavras, no estilo direto.

Duro no assunto. Duríssimo. A começar pelos euforizantes e quase todo o livro com garrafas abertas. Abertas e consumidas por Santiago, desde moço até alcançar idade avançada. Como pode notar-se, uma leitura nada simples, mas sem ser piegas, chata, cansativa. Do começo ao fim do livro.

Conhecedor da arte de escrever, Santiago consegue levar o leitor até o fim do livro sem dificuldades. Filho de pai alcoólatra, com irmãos igualmente etilistas, a saga de Santiago era o copo. Dois casamentos desfeitos, um filho no Rio de Janeiro, e ele no Maranhão, onde vive até hoje.

Conta-nos as misérias feitas pelo álcool ingerido sem a menor moderação, compulsivamente, durante anos e anos. Como não poderia deixar de ser, internações para desintoxicar o organismo afetado. Numa destas internações, o seu diabo interior, como ele fala, inventa um modo de preparar um drinque especial. Álcool de enfermaria com o mate que era servido durante a tarde. Durante este tempo, só uma vez foi obrigado a morar em bairro pobre, casa de chão de barro, cuidando dos filhos, uma preocupação que carrega até os dias de hoje.

Dentro deste flagelo, a necessidade do emprego, sempre conseguido por concursos. O grau de capacidade de Santiago, nos vários concursos que prestou, garantiu-lhe aprovação em todos eles, sendo sua pior colocação um quinto lugar! Primeiro também, conseguindo trabalho bom. Mas o álcool destruindo a carreira, desmoralizando o homem que estudava Letras na Universidade Federal do Maranhão, curso interrompido e só retornado sete anos depois. Neste ínterim, fatos engraçados se sucedem. Antonio Maria Santiago Cabral tem que pedir uma beca emprestada para colar grau. Não foi falta de dinheiro, ele não sabia que a cerimônia impõe o uso desta roupa!

Nos Alcoólicos Anônimos, começou a sua salvação até encontrar o amor da sua vida, quando já estava muito recuperado. Com ela veio ao Rio, conversou com o filho, reviu vários amigos.

Quando voltou a São Luís, entrando no avião não pode conter a satisfação: “- Valeu! Estou conseguindo a minha vida de volta!”

Álcool nunca mais! Conseguiu com a sua valentia, bravura e determinação.

Agradeço, amigo Antonio Maria, que tenha me proporcionado fazer o comentário de uma grande vitória.

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 11/05/2009
Reeditado em 12/05/2009
Código do texto: T1587064
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