A MINHA ÚLTIMA PAIXÃO

O ínicio da minha vida afetiva, tirando as paixões platônicas normais, uma pela professora de português rss, e outra por uma vizinha, já noiva e mais velha do que os meus poucos quinze anos, começou ao atravessar uma rua.

Naquele primeiro ano da década de setenta, ficávamos conversando sentados no muro da esquina, enquanto víamos os ônibus, que iam para bairros mais à frente, passar e curtíamos as saídas do colégio em frente e todo o movimento daquele ‘nosso pedaço’ que era muito agitado.

Estávamos sempre ali, até que um dia, em um domingo, perto das nove da noite, fui lá ver se tinha alguém para bater papo e não tinha ninguém, mas fiquei um pouco por ali para ver se alguém chegava, o que não aconteceu, e quando já estava atravessando a rua para ir embora, uma moça, moradora nova da casa em frente da nossa esquina, da janela me chamou.

Estavam comemorando um aniversário e perguntou se eu não gostaria de participar. Eu era tímido para aproximações, depois ia bem, e tendo os 'zóinhos verdes' rss, isto compensava a minha timidez de aproximação.

Aceitei claro, tinha ido lá para ver se tinha algum amigo para bater papo, mas longe de imaginar que uma moça tão bonita, de cabelinhos curtinhos, o que na época era sinal de modernidade, aparecesse na janela me convidando para entrar.

Elas moravam em três já há um mês ali, e a que estava aniversariando, estava acompanhado de um senhor de uns cinqüenta anos e estavam apartados das outras duas com quem fiquei conversando.

O papo rolou e ficamos lá, eu com a s duas, numa mesa, batendo um papo, comendo uns docinhos e bebendo alguma coisa.

Quando saí fui convidado para voltar lá na quarta feira, e poderia convidar um outro amigo para ir também e, pelo qual, esta outra, que estava junto, já tinha visto passar por ali e gostaria de conhece-lo, para escutarmos umas músicas, beliscar alguma coisa e bater papo.

Tudo bem, na quarta lá fomos nós, eu e o outro ‘premiado’, mas vi que a situação era um pouco mais complicada do que aparentava para o meu lado. A que tinha me convidado, já não estava tão simpática, pois havia chegado um cara, com quem aparentemente ela tinha um caso meio conturbado.

Esfriou os meus ânimos e vi que a barra com ela era mais pesada e deu para ver que era bem maluquinha e acabou saindo em seguida com o cara. ‘Dancei’, mas ficamos lá, os três, batendo papo, quando chegou a que tinha aniversariado.

Deu boa noite para nós, era mais fechada, dava para ver que era uma mulher de mais personalidade, e era a mais bonita das três, mas tinha, como dava para ver, uma relação com o cara que a tinha levado em casa e que a estava acompanhando no aniversário, embora tivessem se mantido sempre só conversando e sem maiores intimidades.

Entrando na casa, que era uma construção antiga, havia uma ante sala, onde havíamos ficado no primeiro encontro conversando numa mesa e uma maior logo em seguida, no centro, onde ficava o som e móveis mais confortáveis, e contíguo a esta, dois quartos, onde o que dava frente para a rua era o da que havia simpatizado com o meu amigo, e o quarto, diretamente em frente, de onde estávamos, era o desta que havia chegado.
A outra que tinha me convidado e ao mesmo tempo me deixado na mão ficava num dos dois quartos que ficava na parte de cima.

Bom, ficamos lá conversando e escutando uns 'sons', que eu havia levado.

A aniversariante que havia chegado, meio fechada, demonstrando que não havia gostado muito da nossa presença, foi para o quarto e se fechou lá, deixando-nos conversando.

Voltamos lá, mais duas vezes, na segunda ficamos batendo papo, os quatro novamente, e escutando música e na terceira levei mais um cano, e definitivo, a minha ‘prenda’, me frustrando de novo, tinha voltado para Blumenau, de onde era a origem delas, fugindo do cara.

Ficamos lá os três e eu já, nesta altura, já fazendo ‘vela’.

Tinha ‘dançado’ mesmo, quando eis que a bela do quarto em frente, chegou mais cedo, de volta de carona, mas o cara nunca entrava, e ficou nos escutando conversar do seu quarto e atraída pela conversa veio se unir a nós.

Mostrou-se muito legal e ficamos lá conversando, bebendo alguma coisa e degustando uns petiscos. A noite foi avançando, as caipirinhas esvaziando e rolou umas músicas românticas, e eu que tinha me dado mal, deixei o meu amigo com o queixo caído.

Depois ela me falou que, lá do quarto, nas duas vezes anteriores, tinha ouvido as nossas conversas e tinha se simpatizado comigo e por isto se aproximou, e eu perguntei sobre o cara que sempre trazia ela e ela me falou que era só um amigo e aparentado do dono da empresa onde ela trabalhava e que era uma pessoa com diversos problemas e que, saiam para conversar, pois ela tinha muita amizade e gratidão por ele.

Tudo bem! Era um cara forte, com um baita bigode e devia dar uns quatro de mim, mas ele realmente, dificilmente entrava, e quando o fazia logo saia, mas sem nenhum beijinho de despedida nada. Eu acabei achando que não havia nada mesmo, mas ela gostaria que ele não soubesse nada sobre nós, devido à nossa diferença de idade, ela tinha vinte e três anos, e que também poderia prejudicar o trabalho dela, já que ele era parente do chefe dela.

A relação foi rolando. Eu sempre fui mais 'cabeça' do que os caras da minha idade e, por isto, meus amigos sempre eram mais velhos do que eu, tanto que, quando iam me buscar para as baladas, naquela época dos ‘Opalas pretos’, muitas vezes eu tinha que ficar no carro por não poder entrar em algumas delas.

A relação se tornou forte e eu passei a viver mais lá do que em casa.

O outro eu nem lembrava mais, embora duas a três vezes por semana ele a levasse em casa, mas era sempre em horários cedo, nove horas, no máximo, normalmente, e eu sabia que, casado, ele também não era. E era de uma família tradicional de Curitiba.

Às vezes saiam aos sábados também, mas era sempre jogo rápido. Eu sabia que havia uma relação, mas achava que o cara devia ser impotente ou algo assim. Ela dizia que iam ao cinema, como sempre faziam, e que não poderia deixar de ter estes compromissos, para não chamar a atenção, mas nunca voltavam mais do que três horas depois. Sei que dá para fazer muita coisa em três horas, você vai dizer, mas por que se não eram compromissados? E eu fui esquecendo este assunto, embora não gostasse de ficar sem ela.

O meu amigo só tinha frequentado no inicio, não tinha tido continuidade a relação com a amiga dela, então eu sempre estava lá, com ou sem a presença dela.

Passeávamos pela rua aos domingos, fazíamos almoço em casa. Nada de extraordinário, ou vamos dizer, tudo era extraordinário para mim. Teve um período muito bom.

Nunca tinha visto o sexo com maldade, com malícia, até então, como normalmente meus amigos já viam, talvez, por, justamente, serem sempre mais velhos do que eu.
Atendíamos naturalmente aos apelos, que eram bastante, claro, e de acordo com a idade que tínhamos e que passou a ser natural entre nós, já que estávamos sempre juntos.

Ele sempre que ia buscá-la dava uma buzinada quando estacionava e ela saia e eu, após já um ano e meio nesta relação, também nem podia me impor, pois nem renda eu tinha, ou era, claro, pouca, como é a remuneração de um jovem de dezesseis anos e meio, já nesta altura, ou seja, quase nada e por sentir esta impotência, não podia exigir nada.

E eu ficava lá com a amiga dela, curtindo aquela situação, que já estava extrapolando, até que um dia ele chegou sem buzinar. Ela estava deitada, com dor de cabeça, até isto de uma relação normal existia, embora não fosse pelo motivo tradicional, e eu estava sentado na cama, com o braço em torno dela e a janela da sala estava aberta.

Ele voltou no carro, buzinou e ela foi lá e voltou logo em seguida, e falou: O fulano nos viu juntos, é melhor você sair pelos fundos.

Eu não saí e fui para a cozinha (o que faz uma paixão, até perdemos o  juizo rss) e ele chegou até perto de mim. Aí ela falou: Hamilton é melhor você ir embora.

Então sai e fiquei encostado no portão da cerca dos fundos e ai ele falou: Eu só não te mato, porque você é um piá e eu soberbamente disse que ela não achava e rolou um silêncio, mas eu estava há uns 5 metros, do lado de fora da cera, rss, e ele era meio manco de uma perna.

Ele ficou me olhando e entrou e ai, eu acho, meio tardiamente, caiu a tal da ficha e eu fui lá para a esquina onde estavam meus amigos, vendo tudo, e falei:

Ele pegou a gente junto e eles disseram: "Te manda cara, não fica aqui não".

E eu me mandei. Fiquei em cima de uma subida, onde tinha uma encruzilhada e de lá fiquei olhando a rua principal. Se ele aparecesse, eu tinha muitos lugares para onde correr.

E de lá o vi passar umas duas vezes com o carro pela pista, mas ele sabia que não adiantava tentar subir, pois não ia conseguir me pegar e eu acabei foi me mandando mesmo.

Ele foi traído por um ano e meio e eu enganado pelo mesmo tempo, talvez por algo que começou como brincadeira para ela e depois tomou outro rumo, mas não tinha mais condição de continuar, e ai só a via sendo trazida, durante alguns dias e tarde da noite, sem ter mais chance de falar com ela. Ficava ali, naquela pracinha, até altas horas, e só conseguia vê-los passar, e ele também lá ficava agora, até, logo em seguida, ela ter se mudado e eu não a tê-la nunca mais visto.

De um dia para o outro eu não tinha mais acesso a ela e nem mais para onde ir, pois não era mais adolescente, mas também não era um adulto. Começou um processo de reestruração emocional que durou muito tempo, pois não me dava mais bem com as garotas da minha idade.

E ao assistir a dois filmes, e depois escrever esta crônica, foi caindo algumas fichas, que eu nunca tinha entendido.

Voce viu, escrever também pode ser uma catarse, rss!

Um foi ‘O LEITOR’, em que o protagonista teve uma relação, bem parecida com a que eu descrevi acima,

e o outro foi ‘O LUTADOR’, que dizem, é quase a própria biografia do ator Mickey Rourke, em que o protagonista leva uma vida de  aparências e de lutador de boxe, para camuflar carências afetivas e a minha durou até eu ter, também, caido na 'lona'.

Mas paixão, que não é amor, e que normalmente termina em muitos sofrimentos para um ou para o outro, esta eu não tive mais. Tive muitos relacionamentos, muitos de curto prazo, pois nada os mantinham, já que também não eram amor.

Paguei um preço, mas a paixão não me pegou mais, mas até descobrir a diferença entre paixão e amor demorou muito e eu sempre fiquei em busca daquele sentimento novamente.

E, ao invés do dito, ‘que a vida imita a arte’  a minha não teve, felizmente, o mesmo fim do protagonista do filme, pois ele parou de lutar justamente quando poderia ter se superado, quando teve a oportunidade.

Nada é por acaso e não existem injustiças, então, aquela minha relação só foi o trampolim que me levou à vivências e sofrimentos profundos, que eu precisava superar, pois, em eras passadas, eu tinha pecado muito contra o amor.

Mas não importa o que estejamos passando, não devemos esquecer a mensagem trazida pela frase a seguir, e ir avante sem guardar mágoas, só levando sentimentos bons.


 'Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de sí mesmo' Roselis von Sass graal.org.br







 
HAMILTON SERPA
Enviado por HAMILTON SERPA em 11/05/2009
Reeditado em 09/01/2016
Código do texto: T1588389
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