Numa trilha de emoções, ouvindo uma canção do Lulú, cantada por Lenine.

Numa trilha de emoções, ouvindo uma canção do Lulú, cantada por Lenine.

Alguém já disse que estamos imersos num mundo onde a música é uma onipresença, há algum tempo. Hoje já se pode dizer que estamos cercados e somos reféns da audição de música - coisas que vão das notas notas de execução dos pacotes Office e do player do PC, do MSN, na Internet e, vai pelas campainhas dos celulares,etc (o som automotivo é um caso à parte, nesse processo - eu, que tenho ouvidos de cão caçador e, não suporto os graves reforçados do som dos carros, vou deixar esse assunto para um post específico).

Em certo sentido, a música já não é uma presença desejável, mas um ruído de fundo constante, insistente...

(Não tenho dúvidas que, em breve, um dos itens principais da criação de condomínios e, seus regulamentos será o precioso item da "baixa emissão de sons e ruídos (inclusive aqueles relativos a som automotivo" e, que vai influir bastante na decisão dos compradores de imóveis).

Imagino que os compositores populares devem andar pensativos com esse cenário, questionado o seguintes: como se fazer ouvir nessa babel, onde vale a Lei do cabrito - isto é, o que mais berra, leva a atenção da maior parcela de indivíduos.

Parece que, diante da situação, por vários motivos, o negócio, de agora em diante é, fazer a divulgação regional (quando, não, local - cidade, bairro), para, só depois, imaginar repercussão em termos nacionais. Aquele esquema de indústria da música acabou - esta, aliás, só entra, agora, no processo, depois de maturação (estouro) do artista. Moleza, né? A multinacional já pega o artista pronto e, testado no mercado - fatura menos no geral, mas, ganha mais no particular, por que tem custos e riscos menores. Exemplo? Tati Quebra-Barraco, banda Calypso e, Bruno e Marrone, pra citar rapidamente...

Ou seja, abrem-se uma série de portas, mas... a guerra pela audiência ficou muito mais dura. Em poucas palavras: banquinho e violão já era. E músico de banquinho e violão, aliás, vai para o fim da fila - ao contrário do que muita gente imaginou, o processo de regionalização da música tem muito a ver com a depauperação da qualidade do que se produz de música - e isso é fácil de verificar, pela música que toca no bairro, no carro, nas domingueiras...

Aonde quero chegar? Desculpem. A lugar nenhum. Esse não é o assunto do post.

Quero falar de uma música que alguém me passou enquanto teclava no MSN. É uma música lá dos 80, gravada por Lulú Santos e, que foi regravada por Lenine, com a participação de Zélia Duncan.

A música é dele, Lulú. E a letra é, de Nelson Motta. Pop. Concisa. Belíssima. Melodia e letras impecáveis, perfeitamente casadas (tipo Roupa Nova).

Essa música é parte da trilha sonora dos 80, no Brasil. Mas, na gravação de Lenine, ficou especial. Recebeu um tratamento econômico na instrumentação e nos arranjos. As vozes sobressaem. É trilha sonora para encontros imediatos do 3º grau, sem dúvida (embora, talvez não haja mais lugar para esse tipo de música, nos encontros).

Mas, esse ainda não é o assunto (ei!, isso tá parecendo frase de programa televisivo da sessão chá de berço...). Quero falar mesmo é, das confusas emoções novas que me acorreram, ouvindo uma velha canção que já tinha lugar cativo na minha mente.

Me vi ali, diante do PC, teclando com uma pessoa que só conheço virtualmente e, que, a despeito da delicadeza, da sensibilidade e inteligência sutil, não poderia entender o efeito da música de um quarentão - aquela confusão de sentimentos vindo, subindo e se espalhando pelos cantos da mente, a tentativa de rejeição de memórias e lembranças, uma sensação de inadequação diante do mundo que segue, mudando, ao redor, vontade de captar naquele instante uma sensação ou sentimento bom e confiante, para guardar na agenda, o desconforto de sentir aquela constelação de coisas e detalhes se agitando, expandindo e encolhendo, dentro do peito, o desejo de arejar os sentidos e sentimentos, para livrá-los da carga dos anos e seguir, recomeçando, a necessidade iminente de confessar impotência diante do medo das falhas, nesta altura da vida e, ainda, de dizer, claramente, que a corda das possibilidades emite um agora um si bemol - enquanto me vejo na impossibilidade de fugir do atordoamento causado pela voz lancinante de Lenine, percorrendo os versos da canção...

Fui pra casa e, a música foi comigo, rebatendo devagar nas tabelas da cabeça. Peguei o violão e fui tentar tirar os acordes dela. Eles foram vindo. trôpegos, doídos.

Na manhã de sábado, voltei ao violão, à canção e, a mim, tentando conciliar o que não identificava direito.

É isso, enfim do que queria falar? Não tenho certeza. Cheguei perto. Tem certas coisas que não se sabe dizer, de pronto. Mas, depois volto pra certificar. Com data...

A música de que falo é: Certas coisas (...como eu acho apropriado o título, no momento em que escrevo!)

A letra é essa (vai com cifra, pra quem quiser arriscar):

Intro: ( G7/9 C4/G C/G G5+/9 G )2 X

G7/9 C4/G

Não existiria som

C/G G5+/9

se não houvesse

G

o silêncio

G7/9 C4/G

Não haveria luz

C/G G5+/9

se não fosse

G D/F#

a escuridão

Em7 A9

A vida é mesmo assim

Am9

dia e noite

Em7 D

não e sim

(Introdução)

G7/9 C4/G

Cada voz que canta o amor

C/G G5+/9

não diz tudo que

G

quer dizer

G7/9 C4/G

Tudo que cala fala

C/G G5+/9

mais alto

G D/F#

ao coração

Em7 A9

Silenciosamente

Am9

eu te falo

Em7 D

com paixão

(Introdução)

G A/G

eu te amo calado

B4/7

como que ouve

B7 Em Dm C G/B

uma sinfonia

C C/D D C D

de silêncio e de

Em Em7+ Em7 Em6

luz

C7/13

nós somos medo e

F#m7 B7

desejo somos

Em Em7+ Em7

feitos de silêncio

C7/13

e som

A9 F#m4/7

tem certas coisas

B7 G7/9

que eu não sei dizer

(Introdução e volta à letra toda. Depois, refrão)