A MASMORRA

Ao verificarmos o verdadeiro significado da palavra masmorra iremos constatar que se trata de prisão subterrânea e escura, ou um aposento sombrio e triste. Podemos entender também qualquer segregação da individualidade humana, pois aí teremos um quadro sombrio e triste que atinge um ser humano.

Penso que essa última definição merece uma profunda reflexão e uma digressão ao mundo físico e transcendental para que possamos avaliar determinadas condutas que se fixam num mar de lágrimas por toda uma vida e não se vê um horizonte que possa brilhar e trazer cores e calor para essa alma penada que perambula pela terra através de um corpo, mas que não consegue ultrapassar o seu limite de tristeza e de pessimismo que lhe arrebata o peito.

Existem pessoas que nunca estão de bem com a vida. Caso isso venha ocorrer é um acontecimento sazonal e tão efêmero que causa surpresa a quem conhece a pessoa que é vítima desse mal, pois vive-se algumas horas, alguns minutos, alguns segundos e tudo se esvai como a água que se infiltra pelas frestas para seguir seu caminho ao encontro de um local que possa frear sua natureza caminheira. Se tal pessoa está bem agora, certamente, logo adiante, colocará obstáculo naquela calmaria e naquele ambiente taciturno, achando meios para expor sua insatisfação e sua eterna mania de ver defeitos em tudo que encontra. Esse ser humano nunca está contente com nada e tudo que almeja – quando alcançado – transforma-se numa gota que quando caia espalha-se em estilhaço e desaparece no chão.

A masmorra de que estou falando é a masmorra da alma de quem é derrotado pelo estado de ansiedade e de insatisfação com tudo o que lhe rodeia. Tal pessoa jamais relaxa e não enxerga que viver assim lhe agride o corpo, transborda-lhe o espírito e dá ensejo ao surgimento de coisas negativas que lhe imprimem uma vida insana que acaba atingindo a todos que a rodeiam, pois todos nós vivemos em grupo e fica mais difícil viver com quem não se mostra adaptado à forma comum de existência de cada um. A simplicidade de se viver para essa pessoa se transforma num fenômeno raro e de difícil alcance, pois não lhe é peculiar olhar ao redor e ver como o exemplo de outras pessoas menos afortunadas possam lhe servir de substrato para que valorize o pouco que tem ou o pouco que lhe reservou a vida. Não me refiro apenas às riquezas materiais, mas sim à riqueza da simplicidade que nos cerca como seres humanos, pois temos de agradecer a Deus (todos os dias), por sermos pessoas sadias, sem anomalias físicas que nos possam impedir de trabalhar ou de praticar o lazer ou outras atividades que nos dão satisfação.

O que nos distancia dos animais é a nossa capacidade de pensar e de agir como um ser inteligente de forma que nós mesmos venhamos a aprender o caminho da uma vida feliz. Assim, caso o nosso pensamento divague muito e nos torne reféns de sonhos inacabados e de difícil realização, a saída que devemos encontrar é mudarmos a rota, mudarmos o destino ou radicalizarmos em busca de outras metas que nos possam ser eficazes como realização.

A grande filosofia de vida é aquela em que descobrimos o nosso equilíbrio entre o que desejamos e o que podemos realizar, sem abrir mão dos nossos sonhos. Não podemos correr atrás das coisas com ansiedade e com uma expectativa de retorno imediato ou até mediato. Se formos dormir e, durante a noite inteira, ficarmos pensando em algo que só poderemos fazer amanhã, certamente que iremos ter uma insônia e não dormiremos direito. O resultado é que no outro dia não teremos as mesmas forças caso tivéssemos encontrado o descanso que o nosso organismo exige durante o sono. Isso, para mim, transforma-se numa ansiedade inibidora das realizações. O certo é coordenarmos nossos impulsos com uma dose de razão; eis que posso ter idéias durante a noite, mas não posse realizá-las na prática, assim, a melhor solução é dormir com a idéia e transformá-la em realização no dia seguinte.

Diante disso, precisamos de técnicas para não sermos pessoas tão ansiosas. Por tal razão, podemos fazer alguns exercícios que nos ajudam no dia-a-dia. Um bom exercício é evitar de se aproximar de um grupo que vejo na rua, quando minha presença ali em nada contribuirá para o que está acontecendo, a não ser que seja um acidente e minha formação profissional me permite dar auxílio. Quando vamos ao laboratório clínico e recebemos nosso exame de sangue, evitarmos o impulso de abrir dentro do carro ou na rua. O resultado não irá mudar caso esperarmos para abrir o envelope depois que estivermos em casa num local calmo e acolhedor. É importante evitarmos todas as condutas excessivamente curiosas, pois tudo o que aparece no mundo - que é possível de ser visto - inevitavelmente, nós veremos. No entanto, aquilo que não nos é de interesse, ou de interesse alheio, que fique nessa dimensão sem minha interferência. O princípio é racional, pois nada acontece fora do tempo e com absoluta vigilância de todos. Temos de ter noção que nem tudo que acontece nos é peculiar, ou nos é possível absorver.

Vamos sair de nossas próprias masmorras absorvendo uma vida de altivez e de bom convívio, procurando sempre usar a filosofia de que mais vale chegar onde quero do que chegar primeiro que os outros. Essa questão de chegar primeiro nem sempre mostra o vencedor. O vencedor é aquele que chega com a consciência do caminho percorrido para ali chegar. Aquele que correu demais, não terá observado seu trajeto e, se precisar voltar, poderá perder-se pelo caminho. Assim, tudo que é feito com planejamento e com paciência sempre terá a tendência de melhores resultados, pois quem colhe os grãos muito depressa não colherá os grãos maduros.

Vamos sair da prisão que alguns de nós carrega no seu íntimo. Vamos nos libertar com inteligência. Vamos olhar ao redor e ver aquilo que dificulta muitas mais a vida dos outros. Vamos aprender a valorizar o que temos. Vamos buscar o que almejamos com parcimônia e com paciência, sempre buscando seguir o caminho da segurança, jamais o da pressa.

Depois de todas essas providências e com muitos exercícios que visam extirpar do nosso íntimo o lado volúvel que cede em face do nosso orgulho e da nossa mesquinhez, certamente encontraremos a porta aberta da cela de nossa masmorra e sairemos dela com a consciência de que nossa vida se transformou para o encontro da felicidade.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 13/05/2009
Reeditado em 13/05/2009
Código do texto: T1591701