Banho de Igarapé ( Histórias da minha infância - III)

Banho de Igarapé

Eu contava uns 10 anos quando entrei nessa brincadeira.

o banho no igarapé era como brincar no Parque de Diversão...

A meninada corria, e, mesmo sem tirar a roupa, pulava no riozinho espalhando água por todos os lados.

O bom demais era encolher as pernas e abraça-las ainda no ar, assim o corpo ia direto ao fundo, de lá, todos saiam a nadar até a superfície, era um entra e sai da água, brincadeiras de pique-pega, plantar bananeira, catar pedrinhas coloridas lá do fundão, mas o delicioso era pegar a tábua de lavar roupas da *dona Isabel cachimbeira (diziam que ela virava bicho, mas isso é outra história), feita de um tronco de árvore. Colocávamos *tabatinga nas extremidades e transformávamos "a dita cuja" em uma canoa, depois pulávamos dentro e remávamos com as mãos, quando nos distanciávamos da margem, ela afundava e todos caíamos na água, juntos, levávamos a canoa até a margem e a tapagem recomeçava. Fazíamos isso várias vezes, esquecidos de voltar para as nossas casas, depois de muito tempo, já cansados de tanto puxa-puxa, arrastávamos a cuja e a deixávamos quietinha às margens do rio, se ela falasse... com certeza nossas costas arderiam das surras que levaríamos dos nossos pais, mas ainda bem que ela já nasceu muda. Já pensou se dona Isabel nos pegasse? Só de pensar, arrepio os cabelos...

*Isabel cachimbeira – Assim chamada porque passava o dia inteiro com um cachimbo na boca. Lavava roupas para fora, como se falava usualmente, gostava de ficar de cócoras na porta de sua casa, olhando as roupas a secar no varal, não gostava muito da aproximação das crianças, e, quando elas apareciam, dizia que ia pega-las, daí o medo da criançada.

*Tabatinga – Pedra argilosa liquefeita encontrada em rios e lagoas.