Na Escola (Histórias da minha Infância - IV)

NA ESCOLA

Não dei trabalho para ir à escola, sempre gostei de ver e depois ler livros e revistinhas, antes de ir ao colégio, passava muitos momentos do dia recortando e olhando figuras querendo a todo custo juntar as palavras. Minha mãe que era professora na Zona Rural, quando possível permitia que eu assistisse as aulas que ela ministrava, era uma farra só, eu me misturava aos alunos de diversas idades, brincava muito na hora do recreio mas também participava das aulas como ouvinte, ou melhor, como a criança sapeca que eu era..

aos 6 anos comecei a estudar na Escolinha da igreja Batista de Altamira, lá nos confins do Pará, onde nasci. Sempre fui serelepe, queria logo ler e prestava atenção ao que a professora falava, mas havia algo que me incomodava, por eu ser canhota a minha mestra teimava em me forçar a escrever com a mão direita, qual! não conseguia fazer nada, com isso os coleguinhas maiores diziam que eu escrevia com a mão torta, outros falavam que eu era contra Deus, vê se pode!!!, sempre fui fã de Deus!!!.Como ela não conseguiu me fazer ser destra, deixou assim mesmo.

Fiz a alfabetização e ao passar para a primeira série, já sabia ler e escrever, Lia principalmente revistas em quadrinho que eu pegava emprestado de um coleguinha lá da 3ª série, lia de Zé Carioca a historinhas infantis, e quando ia para a escola, lia todas as placas que eu via pela rua... e isso eu fazia em voz alta. O caminho de casa à escola era longo, eu era levada de bicicleta, fazia o percurso falando o tempo todo, acenava para os conhecidos, devolvia os beijos que me jogavam, sempre fui extrovertida, às vezes, até demais.

Nunca repeti de ano, gostava dos dias de sabatina, estudava muito para aprender as continhas e na hora do “bolo”...conseguia escapar, mas às vezes precisava dar reguadas em coleguinhas e isso eu não gostava, batia devagar...

Impossível não lembrar do meu material escolar nessa época. Minha mãe fazia cadernos comprando blocos de papel almaço, colocava 10 folhas e costurava ao centro, fazia uma capa de cartolina e depois pregava alguns decalques, ficava bonitinho, mas eu queria mesmo era um de arame como alguns colegas tinham, só que as coisas lá em casa não eram fáceis, à época, alem de três filhas, minha mãe criava 3 sobrinhos, filhos da irmã que falecera.

Além desse cadernos artesanais que eu, minhas irmãs e primos usávamos, havia também as borrachas feitas de tampa de vidro de Penicilina, elas apagavam mas deixavam às vezes um rastro escuro do grafite, só que eu apagava bem devagar para não sujar a folha. Ah, quase esqueci, usava uma caixa de lápis de cor de 6 unidades mas sonhava em ganhar outra de 12, isso aconteceu mais tarde. Meu material era muito organizado, colocava tudo dentro de um saco de sandálias Havaianas pendurado por um cordão . Um dia briguei com um coleguinha e bati nele, minha mãe foi chamada à secretaria da escola, tremi de medo, sabia que viria um castigo pela frente. Quando chegamos em casa, ela conversou comigo, ouviu os meus argumentos mas mesmo assim, levei seis “bolos” três em cada mão, como arderam!

Depois desse episódio, fiquei mais quieta. Nas aulas escrevia tudo rápido e abria o livro para ler. Ficava tão concentrada que nem saia na hora do recreio...Mas alguém me delatou para a professora Neusa, e um dia ela chegou devagar ao meu lado para ver o que eu tanto lia...descobriu o meu giibi dentro do livro. É que eu colocava a revistinha disfarçada e aproveitava todos os momentos livres mesmo em sala de aula para ler, ela contou para a minha mãe que me deu uma bronca e prometeu me proibir de ler revistas em quadrinho, jurei que não iria mais fazer isso. Ainda hoje leio revistas dentro de livros. rsrsrs....

Nessa época, ganhei um livro do meu avô Elias chamado “Pollyanna”, daí aprendi que poderia jogar o “jogo do contente”, como a personagem costumava fazer, quando me sentia triste, revertia a situação, até hoje continuo a buscar sempre estar feliz.