Mulher recusada

Ninguém jamais duvidou da palavra do árabe Said. Era um homem íntegro. Sério e simples. Gostava de contar casos, não alterava a essência.

Tomando seu áraque com água e limão, numa grande roda de amigos idosos como ele, era o maior contador de histórias do lugar. Muitas ele inventava, alegrando a vida dos que já passaram do tempo dos amores. Mas todos sabiam pela sua entonação de voz, quando o caso contado era invencionice de Said ou verdade passada.

Certa noite, muitos presentes e Said calado, alguém o interpelou. “Said, turco safado, tá quieto, conta uma.”

O copo de áraque sofreu uma baixa. O velho turco estava macambúzio, sua expressão não era outra. Seu copo foi mais uma vez cheio e trazidos para todos os quibes que ele mesmo preparava, e o dono do bar encarregava-se de fritar, tirar bem a gordura, uma exigência do turco, e vender tendo bons lucros, considerado o lugar do botequim. Said jamais pagou conta alguma. Fosse feita a conta do que consumia com o que passava de graça, seu lucro seria bem razoável. Até parece mentira, mas a cadeira cativa do velho garantia comida e bebida noite afora.

Diante da insistência de todos, Said, terno impecável, colete, gravata elegante e relógio da mais fina qualidade, no bolso, começou a sua história.

Eram passados anos. Na época, segundo Said, sua idade era de cinquenta e seis anos. Conheceu uma jovem linda, numa das numerosas festas em que era convidado. Conversaram muito, ele soube que Sophia tinha apenas vinte e quatro, mas era mulher livre, dona do seu nariz, do seu corpo e, quem sabe, da sua alma. Não entendeu a causa de a jovem tê-lo convidado para fazerem viagem juntos, e ficarem um fim de semana debaixo do mesmo teto. Era ainda, à época, homem vigoroso, mas não podia entender a razão do chamamento. Linda, rosto perfeito, olhos suplicantes.

Recusou. Jamais tinha feito isto antes, mas teve medo de estar-se envolvendo com encrencas. Jovem demais, ele poderia ser pai dela!

Olhos lacrimejantes, retirou-se. Ele sabia que para dizer não à mulher, o custo era caro.

O que não sabia era que Sophia havia gostado muito dele. E sentiu-se recusada. Não foi. Até hoje ele se arrepende do seu ato...

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 16/05/2009
Código do texto: T1597418
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