Adeus

Viviam juntos, embora separados por quinze anos de diferenças. Movidos por um compadecimento de quem só tem quem dividiu sonhos e expectativas, procrastinavam a decisão, o abandono de seus ideais de vida mútua. Conseqüência de anos de silêncio na mesma cama, contrariando o amor, desafiando a felicidade.

Lá estavam eles. Olhos baixos e culposos. A palavra não pronunciada que anos depois mudaria tudo. Seres confusos, perdidos em seus próprios sentimentos. Seqüência de erros que despercebidamente sufocaram a importância do que um dia foi planejado com amor. Não, não eram mentirosos. Eram atores que representavam o casal moderno, que entra e sai de uma relação de cabeça erguida, convencidos da experiência adquirida. Ignoravam o desejo de dizer tudo e acabar de vez com aquela farsa, e juntos recordarem as juras de amor eterno nos tempos de namoro. Mas ambos se distanciavam à medida que a dúvida crescia. Era mais fácil dizer adeus.

Sequer se olhavam para não correrem o risco de por tudo a perder. Mas tudo o que? Quem sabe a ausência, o silêncio impróprio, a rejeição e o medo da entrega. E, num instante de distração, poderiam se tocar... e reacender um amor ferido, mas ainda assim capaz de perdoar e reviver.

No íntimo, tentavam controlar a explosão de sentidos, para que não percebessem a agonia que é desprender-se de alguém. Renunciar às suspeitas, à proteção, ao cuidado. Dali em diante, acostumar-se-iam a viver uma vida consigo mesmos e com o que chamavam de aprendizado de vida à dois.

“Adeus”, diziam em pensamento, aguardando que o outro tomasse a iniciativa de ir embora.