A MENINA E A BONECA

A MENINA E A BONECA

Há alguns fatos corriqueiros em nossas vidas, que possivelmente ainda nos pregam surpresa; em se tratando de algumas jóias culturais, que a amnésia do tempo tratou de apagar; visto que, o carrinho de carretel, com carroceria de latas de sardinha, os boizinhos de sabugo de milho e as bonecas de pano, perderam a inocência. Hoje em dia a criançada está colada na “Malhação” e outras coisas do gênero, como se a educação sexual delas tivesse sistematicamente que passar, pelo crivo dos escrachos. Que denigrem o que de mais belo e sublime existe, na relação homem/mulher. Há muito na história dos humanos, que castraram a sexualidade, sob o aspecto pecaminoso aos olhos de DEUS. Agora, esta mesma sociedade castradora, que outrora maculou e condensou em si toda a manifestação da vida; hoje, tenta romper do espúrio, a mágica de se fazer mulher-mental, mesmo em sua precocidade anatômica. Sob o engodo de vender beleza, para quem já se fez belo pela natureza, que são nossas crianças. Nossas meninas, entre 4 e 7 anos, já se acham no rol de compradoras compulsivas da beleza feminina, no momento em que elas, meninas, deveriam estar brincando suas fantasias infantis para enfeitarem suas almas, com os afins de que; na maturidade não se façam vítimas potencial da ditadura da beleza. Ser bela é o manifestar sutil da divina proporção do ser como um todo! Não apenas, na “finitude” temporal do corpo. Nossas meninas, nessa tenra idade, já se aportam de bolsas recheadas de esmaltes, batons e outras parafernalhas do indumentário feminino.

Estas incursões, de tempos para cá, acompanham nossas pequerruchas, despertando nelas até mesmo o jogo precoce da sedução, quando a bem dizer, ainda se submetem às fraldas e nem sabem a que seduzir. Com esses espetáculos que antecipam os estágios da vida, será que veremos nossos tataranetos brincarem como crianças? Ou como crianças os veremos nadar de braçadas no amniótico uterino? Ou quiçá, a jogar gude com o escroto paterno? Quando isso acontecer! Creio que estarei desmontado por completo e muito distante das oficinas da vida. Por um momento, até mesmo imaginei que nesse meu, meio século de vida, eu teria entrado no êxtase de uma visão conservadora de mundo. Porém descobri, que o ônibus da modernidade é que está em alta velocidade, e quando a velocidade é alta, não se tem a ótica do perigo. Mas com tudo isso, a semana passada, senti feliz! Imaginem vocês... Encontrei pela rua da minha Bom Sucesso, uma menina de 12 anos, com uma boneca de pano nos braços. Cena rara...! De beleza rara...! E de esperança mil...! Porque existem meninas e existem bonecas, e se existem meninas-bonecas, ainda existe esperança, mesmo que não haja uma super-linha que costure; com os velhos trapos remanescentes dos tempos de esperança, tecer-se-á a vida em seus frágeis fios: A sutileza da alma, na brandura e leveza do caráter.

Dinis
Enviado por Dinis em 17/05/2009
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