SEM RAZÃO, SEM EMOÇÃO, SEM PERDÃO.

SEM RAZÃO, SEM EMOÇÃO, SEM PERDÃO.

Pode a calçada molhada, com pedaços de consumo inda molhados,

Caminhar em minha direção vinda da perspectiva de minha vida,

Pode meus pobres tênis furados, chiar no molhado inda riscado beirando os buracos irregulares.

Porque pode minha alma estar molhada e furada, esburacada tal e qual meu caminho.

Pode se ver o sangue coagulado dos pés do brasileirinho que inda tenta jogar bola na pavimentação irregular, seu campo e seu sonho paralepepidados.

Porque pedra fria e molhada, com manchas vermelhas, é e está nossos corações, miro.

Pode-se ser atropelado sem socorro nos caminhos dos sonhos, da vida, e ficar a olhar o céu de estrelas, ou o sol do nordeste escaldante. Para compensar pode a chuva fina testemunhar seus momentos aflitos e solitários, deitado, emborcado, encharcado, sobre as ruínas do consumo com todas as marcas berrantemente coloridas.

Como pode-se afundar na própria lama da vida, sem perdão, sem deixar vestígios, saudades, emoções.

Como posso ser hoje, depois fazer e não mais ser, basta mui pouco tempo para meu ser, ser esquecido.

Como estou caminhando, com futuro definido, o abismo profundo, pode estar ali adiante como já previsto, ando mirando e observando os futuros dos irmãos andantes e fico triste.

Todos tão sabiamente solitários em suas dores e em seus sonhos.

Continuo a andar pela chuva fina, pisando nos restos do consumo de plástico, papel, madeira, marcas do que já foi, sendo.

Agora sem Razão, e sem emoção, jaz ali a mirar a chuva fina, o sonhador que não sentiu seu sonho.