Eu, cortar caminho???

Já faz um tempo que aconteceu, aproximadamente uns dez anos, mas lembro como se fosse hoje.

Início de mais um ano letivo, agora no primeiro ano do antigo segundo grau, a turma era a mesma dos anos anteriores, no pátio em frente à quadra - (guardem o local) - relembrávamos das situações ocorridas no passado e contávamos as novidades das férias.

Mês de fevereiro, pleno verão, as chuvas contínuas deixavam os pátios descobertos e a quadra molhada e suja pela terra acumulada, a nossa sala ficava localizada no último corredor paralelo a quadra. Conversa vai, conversa vem - (podem ter certeza nada de útil) – e distraídos não reparamos que a professora - (a mesma de outros anos, puta que pariu de novo!!!) - tinha passado por nós, estáticos e sabendo que depois dela ninguém mais entrava, corremos feitos loucos.

Corremos é o modo de falar, - (prova de cem metros rasos era pouco) - menos um, o “cara” resolveu “cortar caminho” pela quadra, o restante levantando a poeira, literalmente, adentrou na sala e rapidamente nos acomodamos, foi então que percebemos cadê o “cara”??? Já era para estar aqui??? Porém o nosso “carma”, digo, a professora entrou e fechou a porta.

Cinco, dez, quinze minutos e nada a consumição entre a turma começou a incomodar a porra (isso ela mesma), era iminente algo inesperado, batem na porta e ao abri-la, os olhos de espanto dela fizeram com que todos voltassem para o local, e quem era??? Heim??? O “próprio”, inerte, molhado e sujo da cabeça aos pés (imaginem a cena), não teve um ser que não riu, as gargalhadas ecoavam pela classe.

Sem graça, caminhou em nossa direção em câmera lenta, curiosos perguntamos o que havia acontecido (sempre com aquele riso no canto da boca), nervoso começou a copiar a lição e disse que no intervalo contaria. As horas não ajudavam (sabe quando parece estar voltando???), o assunto arrastou-se até o sinal bater.

Ansiosos, rapidamente formou-se uma rodinha, perguntas precipitavam uma atrás da outra, o “cara” mais calmo (o que adiantava se estressar naquele momento???) começou a narrar tim-tim por tim-tim:

- “Quando vimos que a porra da professora já tinha passado e sabendo que depois dela ninguém entra, assim que vocês saíram correndo igual loucos, pensei – “caralho não vou conseguir” -, então resolvi “CORTAR CAMINHO” pela quadra (ideia de jerico), quando fui subir no murinho que dá acesso ao corredor, acabei escorregando vindo a cair na filha da p... da poça d’água, todo molhado e sujo voltei pelo mesmo lugar em direção ao banheiro, tentei limpar no mínimo a camiseta e ao contrário do que esperava acabou mais molhada e suja, já fudido, tomei coragem e encarei a situação”.

Depois do relato (o restante vocês já sabem), despediu-se de todos, todo molhado, sujo, desolado e começando a espirrar, rumou para casa (pensando na merda que tinha feito), não apareceu mais na semana ( uma puta febre pois o “cara” de molho) fora a bronca que ouviu de sua mãe. Nunca mais o “cara” (traumatizado) e muito menos nós (vacinados) pensamos em “CORTAR O CAMINHO”, atrasados estávamos??? Foda-se!!! Sem pressa seguiríamos o caminho natural até a sala de aula.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 18/05/2009
Código do texto: T1600933
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