É proibido pisar na grama

Houve um tempo, no Brasil, em que, em frente aos quartéis, havia cavaletes nas calçadas com a assustadora inscrição: “Área de Segurança Nacional”. Na prática, significava que aos mortais comuns, não vestidos de verde, todos uma ameaça latente à soberania brasileira, não era permitido pisar naquele espaço do País sem autorização expressa. De birra, driblávamos a proibição quando havia um amigo de guarda, só para ver o que ele faria. Não acontecia coisa alguma, mas o coitado poderia ser punido lá dentro mais tarde ou sei lá o que poderiam fazer conosco pela impertinência em descumprir uma ordem desse quilate. Foi um triste tempo que ficou, apenas, como lição e, hoje, nossas forças armadas são um exemplo de interação com a comunidade e de entendimento que “área de segurança nacional” é cada brasileiro, não importa a que atividade honesta se dedique, incluso estudar, que, na época e interpretação de muitas autoridades, era o primeiro passo para se tornar subversivo. Ainda há algumas “autoridades” que crêem que aqueles tempos não acabaram, mas já morreram e esqueceram de ligar para o coveiro.

Um desconforto parecido com o que sentia ao ter que desviar da calçada e invadir a rua, com os perigos implícitos, me acomete hoje ao ver placas – cada vez menos, a bem da verdade – de “É proibido pisar na grama” em locais públicos. A troco de quê? A maioria dos tipos de grama aguenta tranquilamente ser pisada, sem qualquer prejuízo, a não ser, é claro, que se formem trilhas devido a todos passarem e pisarem no mesmo lugar. Aliás, é exatamente isso que acontece nos locais onde imperam as famigeradas placas: espaços de pisoteamento constante e uma certa sensação de impunidade, pois pisa-se somente em um trecho e, além de do mais, todos fazem a mesma coisa.

Grama é espaço verde, de liberdade, de saúde, de alegria, não muralha cerceadora da ânsia de espaço. Libertemos nossos pés, descalcemo-nos, andemos, brinquemos, rolemos na grama de nossas praças, canteiros, parques, com gritos de crianças prenhes de futuro, jovens plenos de sonhos, adultos lutadores e idosos orgulhosos de sua trajetória. Brasiliemos nosso chão com todos os corações e todas as cores. Liberdade para os pés, liberdade para a grama que os acolhe.