Engulho? Ou  herança?

                                      
     Todos os dias convivemos com situações
estranhas, seja nos jornais ou nos
noticiários de TV,
isso sem falar na síndrome das más
companhias e programas apelativos.
Muitos destes fatos, para não dizer todos,
mostram-se anacrônicos. Mas no fundo,
no fundo, somos tomados pela perplexidade. 
                                        
     Por vezes, ficamos atônitos
a quanto à
vulgaridade ou temeridade dos
fatos que nos
atingem frontalmente. Porém há
de se relevar
o intuito de abrasar tais páginas
ou matérias
com uma pitada, ou na maioria
dos casos,
com um realismo apelativo.
Isto porem,
passa pelos noticiários da TV,
os tais sensacionalistas. 
                                                              
     Por sinal, um prato cheio para os
formadores
de opinião da nossa sociedade e os
que se deixam
levar pelas informações catastróficas,
dramáticas
em que vive nossa cidade
e nosso país.  

                                                                                                                                                                                                                                        
     Os crimes, abusos e absurdos
são inegáveis,
porem, em contra partido,
acabam por fazer de
criminosos, verdadeiros heróis,
tornam-se mitos
de uma infância e adolescência
desprovida de
conceitos éticos e morais.
Os traficantes,
os assassinos, os corruptos,
são alvo
de admiração
e orgulho. Na verdade pouco
há para
se espelhar, os exemplos
são os piores possíveis. 

                                                                  
     Lembro-me quando criança.
O cuidado ao divulgar
certos artigos nos jornais era fator
preponderante.
Os redatores e editores, chefes de
redação na
realidade eram censores,
o primórdio,
fator de extrema relevância no
meio jornalístico.
Bandido era bandido, existiam
notícias de canto
de páginas,
não davam ênfase para fomentar o
crescimento do
delinqüente, do marginalismo no país.
A polícia era
duríssima, enérgica ao extremo,
até certo
ponto passavam
dos limites. Lembro-me também da
necessidade de andar documentado.                                                                                
     
Aos meus 13 anos, já havia uma
“Carteira de Trabalho” assinada,
a qual não saía do meu bolso de
forma alguma. Uma carteira
profissional de menor.                                                                                                                                                   
     Vindo de família classe média pobre,
não me dava
ao luxo de certas regalias da idade,
por exemplo;
Calça Lee, tênis Bamba, camisa Lacost
ou Hering.
Bem como outros utensílios do dia a dia.
Com isso me vi obrigado a trabalhar
para conquistar
meu espaço e poder usufruir ainda sim
com reservas,
meu gosto pessoal. Lembro-me bem!
Existiam lideres, cultuados como heróis, i
sso sem falar os da TV.
Os justiceiros que enchiam nossos
corações juvenis
de satisfação e alegria. Mas, nem tudo
era contentamento, sempre existiram
regras severas a serem seguidas.
Não bastava trabalhar, crescer, estudar.
Havia tarefas domésticas. Por ter sido criado
em uma casa com imenso quintal, acordava
às 05h00min horas para alimentar pássaros,
peixes patos, galinhas, coelhos, colocar o
lixo no portão. Após este ritual diário,
vinha o banho,
café da manhã e a escola. Depois desta
o trabalho,
era meio expediente, aos sábados pela
manhã tinha
que encerar a casa toda, somente após
isso ia jogar
minha pelada na rua. Assim, normas
saudáveis foram introduzidas ao meu
dia a dia bem como a dos meus
colegas e amigos.                                                                
     Fui crescendo dentro de uma ditadura
militar.
Mas, havia homens de verdade lutando
culturalmente
pelo crescimento da nação. Houve Fidel,
Chê, vamos minimizar se não vai dar 100
páginas e não vou chegar
ao objetivo final. O país estava em
plena mudança social
e cultural. Eu sonhava com meu
Brasil forte, uma
sociedade justa, uma divisão de
renda digna,
enxergava um futuro esplendoroso,
motivo de orgulho
para todos os brasileiros.                                                                  
          Ao contrário, assisti o
desencadeamento
da violência institucionalizada.
Perseguições políticas, assassinatos
legalizados, perseguições estudantis.
A mão de ferro dos americanos hipócritas
baixou sobre o solo e o povo brasileiro
devastando tudo de bom
que seria desenvolvido com o decorrer
dos anos vindouros.                                      
     Mesmo assim, ainda sim, vagabundo
era
vagabundo, trabalhador era trabalhador,
havia respeito.
Veio à limitação de expressão e
comportamento,
o exército tentava administrar o que
não conhecia
nem de longe. Os jornais eram mais sérios,
burlar
a censura era tarefa árdua, exigia talento
e criatividade.
Em certos momentos, não havia água morna
para foras
da lei.  Em tudo existe a tal vista grossa,
faziam por
menos quando favorecidos de
alguma forma,
o poder de barganha.                                                                                       
     Hoje, lamentavelmente, o herói é
o traficante,
o miliciano, crianças são jogadas no
mundo ao esmo.                                                                
     Aos sete anos já são olheiros
do tráfico,
mal chegam aos 18 anos.
As meninas aos
14 anos já tem três filhos.
As regras foram ignoradas,
a sociedade é aceitam estes crimes
passivamente.
Não existe educação sexual, a igreja
recusa aceitar
o aborto, o governo não fala em controle
da natalidade. Vendo isto tudo,
nós pagamos
para sustentar os delinqüentes do
amanhã.
Por outro lado,
vêm os direitos humanos. Para variar,
passam a mão na cabeça dos criminosos
exigindo serem tratados como pessoas
de boa
índole e não como o conluio da sociedade brasileira.                                                                     
     Nunca vi uma comissão de direitos
humanos
sair em defesa de uma família que houvesse
perdido seu chefe assassinado em
um assalto
ou outra ação criminosa, seja ela qual for.
Nunca soube de um condenado que
trabalhasse
em cárcere para pagar e sustentar a
família prejudicada. Pelo contrário, são
mais bem alimentados do que muitos
trabalhadores que
muita das vezes não tem três refeições
diárias.
Mas assisto menores assassinos.
Mães drogadas,
bêbados viciados que vivem da
bolsa família.
Assisto também os canais de
TV mostrando
a ousadia dos criminosos, suas
matérias fazem
suas atitudes exemplo para os jovens,
heróis para uma geração órfã.                                                    
     Pasmo ao passar por uma banca de jornal,
ler uma manchete em primeira página: 
                                                                                                                                                            
FILHO "MATA PAI E MÃE POR R$ 100,00
PARA COMPRAR CRACK” 
                         
     
Exemplo claro do destempero
social em que
vivemos. Não existem limites.
As famílias estão se despedaçando,
na alta
sociedade, filhos de corruptos
tornam-se
profissionais talentos para
aperfeiçoar os
escândalos financeiros, matam,
causam
acidente de trânsito e estão sempre
acima da lei.
O choque social é flagrante, não há
como ignorar.
Um adolescente de 18 anos, quase
homem feito,
anda de carro importado em desfile na
Viera Souto fumando seu baseado,
cheio de dólares ou euros no bolso
para
subornar que quer que seja.
Por outro lado as classes
desfavorecidas
vêem seus filhos como vapor nas
bocas de fumo!  É a euforia da
conquista
financeira a qualquer preço!
Tipo Hobbin Hood dos miseráveis.
È lógico que toda regra tem suas
exceções,
mas na maioria dos casos,
esta prática
cresce de forma assustadora.
E os órgãos responsáveis apenas
cruzam os braços, via
“As crackolândias”.
Assistimos diariamente praças
repletas de
viciados usando a droga à
luz do sol,
assaltando brigando, etc, etc...
Grande parte crianças abandonadas
ao próprio destino.  
     O índice de mortes entre 12 e 29 anos
cresce de forma alarmante, seja por
desemprego ou por droga e crimes.
Neste momento crítico nacional,
vemos nosso líder maior ampliar a
“Bolsa família” aos moradores de rua.
Não que realmente não existam famílias
que vivam em sérios apuros. Mas de que
adianta R$ 80,00 por mês se não
são socializados! Onde estão os direitos
humanos que não acolhem os dignos e
desprovidos de atenção, a assistência
social é uma piada de mau gosto
profundo.
A maioria dos mundanos: viciados,
ratazanas de mercados, ladrões,
punguistas etc, etc..                      .                      
     Enfim! Vamos premiar os infratores
e as vítimas do sistema?                         
     Prestigiar a destruição da família?                                                                   
     Ao bem da verdade, não existe uma
proposta concreta, séria e educativa,
os meios de comunicação estão
exorbitando na vulgaridade chamada
realidade.
Maior parte dos canais abertos são
programas católicos, evangélicos e
outras vulgaridades, quando na verdade
é cúmplices de tantos desmandos e
escândalos
que deveria sentir vergonha em ocupar
uma emissora falando baboseiras inúteis
o dia todo! Precisamos e de ação!
Eles se preocupam em correr a sacolinha
para ficar mais ricos do que são!  
Os problemas que se lixem!
Salvo a antiga TVE, hoje Rede Brasil!
Que por sinal tem uma audiência
extremamente limitada,
o restante são enlatados improdutivos.
São milhões de dólares jogados na lixeira
da incompetência administrativa da cultura.                                                                                                                  Por fim, deixo no ar!                                                                                  
     Será que o Jabour estava errado
ao comentar o Oscar?                   
     O deboche foi o ponto alto do protesto?                                                        
     Suas crônicas sarcásticas
demonstram claramente o sentimento
do povo brasileiro que estudou e pensa r
ealmente em seu país e no futuro das
novas gerações e dos seus filhos.                                                          
     
     Será engulho ?
     Ou herança?                                                                                  
     Há de se lamentar! 
              Ou não?   


                 
                                                                                                                                                     


                                                            Carlos Sant’ Anna           
Bruxo das Letras
Enviado por Bruxo das Letras em 21/05/2009
Reeditado em 21/05/2009
Código do texto: T1606483
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