O TEMPO

Há um tempo separando tudo. O tempo não tem pressa, mas passa depressa quando tentamos cronometrá-lo. Desliza suave como as águas mansas de um rio, como as cores suaves de um entardecer, como aquele sorriso que traduz esperança... Ah!, o tempo - só o tempo é capaz de nos proporcionar a saudade de um instante que ficou lá atrás, nas esquinas da nossa infância, da nossa adolescência, da nossa juventude... E ele chega mais uma vez até nós, com tom provocador, trazendo aquele mesmo aroma do perfume da primeira paquera, com aquela mesma brisa, mesma canção e estrelas!... que então fazer, se tudo passa, mas a lembrança das festas, das paisagens e das pessoas queridas continuam quadro a quadro registradas na nossa mente?

Dar um tempo ao tempo é preciso, pois nem só de lembranças se vive. Importante mesmo é tocar o barco para a frente, pois o vento é forte e ser bom navegador é a lição número um que o cotidiano ensina. Porém, lembranças não se apagam - estamos sempre precisando delas: elas são os carrosséis que equilibram, de certa forma, as nossas ações.

O tempo é um eterno passatempo. Enamora com as horas - tão indefinidas quanto ele; indeciso, ele apressa ou adia o que é decisivo. Tudo faz parte de um capítulo chamado destino. E o destino é um bom caçador de detalhes, planeja tudo quando o tudo é nada e do nada se faz para buscar uma perfeição onde os opostos se atraem. A vida faz parte de um tempo mágico, onde o tudo marca, mas o nada também marca. Tudo depende de um ponto de vista, do lado bom das coisas. Vive-se rodeado de redemoinhos e de cenas agitadas, mas ninguém pode ser tão insensato a ponto de chegar a desacreditar de si, se há um tempo para tudo - a vida deve estar acima de tudo: brilhando, alimentando esperanças, semeando palavras, plantando ternura, colhendo os frutos do perdão, brindando com o tempo a taça da solidariedade!

Uma coisa, porém, é certa: o tempo que separa, também une. Pode-se estar a milhares de quilômetros da pessoa amada, querida, adorada... mas existem mil e uma maneiras de contato. O tempo é preciso e precioso. Não inventa bobagens quando estas não queremos. Afinal, o tempo se espelha na nossa própria maneira de pensar e de agir. É um retrato falado do que planejamos, fazemos ou deixamos de fazer. O tempo - esse bendito conselheiro e professor das nossas ações/lições diárias -, depende de nós!

André Filho, Professor e Poeta. - Crônica escrita em 17.06.98 e publicada em vários jornais e revistas, a exemplo do "CORREIO DAS ARTES", de João Pessoa, na edição do dia 02.05.99.