Flores Marginais

Eu vi flores marginais.

Elas estavam na beira do asfalto cheio de buracos que cuspiam lama quando os carros passavam. Suas cores ficavam escondidas sob a lama e suas belezas não eram percebidas.

As flores marginais beiravam caminhos do progresso humano e não eram mais percebidas por estes que se dizem racionais e deixam a beleza passar despercebida diante de seus olhos.

Flores de diversas cores ainda conseguiam sobreviver ao banho de lama que os carros proporcionavam. Eu vi flores violetas, amarelas, brancas... Flores ainda virgens, talvez, aos olhares sonolentos dos viajantes.

Eu vi as flores marginais e elas me viram.

O ar deslocado pelo carro em alta velocidade fazem as flores dançarem. Elas me acompanharam com o olhar e gritaram para mim. Pobres flores marginais! Ninguém as ausculta mais... E ficam com suas pétalas sujas de lama impedindo que até os passarinhos, as borboletas, os beija-flores e as abelhas sejam seduzidos por suas cores vivas e únicas.

Pobres animais floridos! Agora as flores não conseguem espalhar suas sementes por aí. Tudo por causa que ninguem mais as vê. E elas gritam por estarem a margem das coisas desimportantes. São flores marginais e invisíveis.

Flores marginais que nada mais são do que enfeites enlameados na beira do asfalto esburacado.

Valdemar Neto
Enviado por Valdemar Neto em 23/05/2009
Reeditado em 13/06/2009
Código do texto: T1610307
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