SINAIS DOS TEMPOS

Os sinais dos novos tempos estão por todos os lados. No edifício onde moro, de dezesseis apartamentos, em Porto Alegre, há uma criança, minha filha, com seus dez anos. Outro dia, na reunião do condomínio, era eu o mais jovem, aos cinquenta.

No sul, diminuem as crianças e aumentam os cachorros. Porto Alegre, outrora festejada pelo excelente índice de saneamento, com esgoto cloacal abrangendo quase toda cidade, virou penico da cachorrada. Quanto mais “nobre” a região, menos saneamento. Ainda verei cachorro de fralda.

E tem os gatos, que nem chegam a ser muitos. Gatos são menos confiáveis que cachorros, que são fiéis a quem lhes dá comida.

Também me comentaram sobre um casal octogenário, recém formado. Estão namorando, comenta um, são apenas bons amigos, diz outro, estão se fazendo companhia, um terceiro. Renovei minha vontade de passar dos oitenta.

A expectativa das pessoas em relação a quem chegou à quarta idade (será interessante chegar aos setenta e cinco acreditando que terei mais uma “idade” para viver), sendo a quarta idade a quarta parcela de vinte e cinco anos, no mínimo, é de alguém que fica contando histórias da vida para os netos, bisnetos e, o que é pior, deixa que façam tudo que quiserem. Os mais velhos permitem mais porque sabem o que perderam por tudo que lhes e se proibiram.

Na última semana, uma pesquisa apontou que a idade média do brasileiro aumentou quase quinze anos em menos de duas décadas. Sabe-se que as crianças de hoje, muitas, chegarão aos cem anos com naturalidade.

Minha geração ainda lembra que um velho, quando ficava “esquecido” ou passava a andar “sem noção”, era apenas um caduco. Não lembro se, então, havia nome técnico para a doença.

É preciso evoluir para conviver com os de mais idade, um grupo cada vez maior, participativo, influente, consumidor. Como elogiar um octogenário?

Cada um elogia como acredita que o outro gostaria de ser elogiado. E tem gente que elogia com o cérebro que tem e/ou com o que a vida lhe ensinou parecer interessante.

O Wenceslau já havia passado alguns dos oitenta quando, numa festa, acompanhado pela nova companheira e com um grupo mais jovem, citava episódios ocorridos havia algumas décadas, lembrando nomes de pessoas que alguém queria citar em meio a conversas, com rara precisão.

Foi quando alguém comentou:

- Impressionante, que memória, ...

Continuou:

... com esta idade, lembrar de tudo, coisas que eu nem lembrava mais...

E para concluir:

... tomara que continue assim, lúcido!