Mulher in"dependente"

Até hoje com os meus setenta anos nunca consegui entender o que é ser para uma mulher “ser uma mulher in“dependente”, na verdade nós homens até que tentamos, pelo menos no meu caso, a primeira vez que ouvi tinha uns dez anos, sem querer escutei após a minha mãe, mais uma vez, ir tirar satisfação com a minha irmã mais velha, discutiam sobre as atitudes dela dentro de casa, quando em um som alto e claro ela falou:

- “Sou uma mulher independente”

Assustado, fiquei encucado com aquilo e comecei a observar discretamente o que era ser, uma mulher in“dependente”, na televisão, programas para mulheres in“dependentes”, no rádio, nos jornais, nas ruas, em conversas entre mulheres, sempre a mesma discussão, minha mãe, mulher “normal”, também não entendia o que era ser uma mulher in“dependente” na sua época não tinha isso e não demorou muito para descobrirmos, um ano depois ela com os seus dezessete anos, trabalhando e morando com o seu namoradinho, descobriu que estava grávida, e ao anunciar o fato para ele, levou um pé na bunda, para não falar no c..., sem rumo chegou em casa pedindo ajuda, então percebi que mulher in“dependente” pede ajuda, mesmo que ela não admita, afinal ela é uma mulher in“dependente”, relutando ao seu pedido minha mãe aceitou após o meu pai convence-la a dar mais uma chance.

Foram três anos de muitas discussões e arrependimentos do meu pai , os seus horários não condiziam com o combinado, saia para trabalhar e quando aparecia, tomava um banho e saia novamente sem dar explicações, aí descobri que mulher in“dependente” não dá satisfações e trabalham feito loucas, a minha mãe desesperada e sem opções cuidava da sua neta e do meu irmão, na época com quatro anos, ao mesmo tempo, era uma loucura, até que eu tentava colaborar, mas nessa idade só pensava em brincar, normal para qualquer criança.

Foi então que ela resolveu sair de casa e ir morar com outro homem que acabara de conhecer nessas baladas de mulheres in“dependentes” já tinha conhecido outros, mas por ser in“dependente” gostava apenas de uma boa transa e só, pegou as suas malas e a “malinha” e sem agradecer rumou para a casa do seu novo namorado. Uma outra observação: mulher in“dependente” não agradece, acha que os pais não fazem mais que a obrigação, eles tem que cuidar dos filhos, no caso os netos, enquanto elas buscam a tal independência financeira e nos fins de semana saem para namorar,

Cinco anos se passaram, e nesse período nasceram mais três crianças, mulher in“dependente” não sabe se prevenir e também tem bastante filhos, o que é estranho, pois é tão questionado por elas as mulheres “normais” que tem bastante filhos, o seu namorado ou marido, outro detalhe, a mulher in“dependente” por não casar, pois consideram o casamento coisa de mulher “normal”, e por isso não conseguem definir a sua relação, vendo a situação, e não aguentando as reclamações constantes, já que a mulher in“dependente" nunca está satisfeita: em todos os sentidos, arrumou as malas dela e a pôs na rua.

Sem ter para onde ir, mulher in“dependente” não pede ajuda as suas amigas, pois elas também são mulheres in“dependentes” e não querem se meter em briga de casal, pediu novamente abrigo em casa, desta vez nenhum dos dois pensou duas vezes e negaram o pedido, os parentes revoltados pela decisão, começaram os discursos:

- Como pode um pai e uma mãe negar abrigo à própria filha - falam isso porque as suas filhas não são mulheres in“dependentes” -

E vencidos pelos apelos dos familiares aceitaram–a novamente dentro de casa, agora não era apenas uma, tinha mais três, todos em escadinha, a mais velha com seus oito ou nove anos e o restante com cinco, quatro e dois anos, nessa época meu irmão mais novo já tinha uns dez anos, e não aceitava dividir a atenção com os outros, eu com os meus dezoito começava a trabalhar.

E assim o tempo foi passando, minha irmã não mudara em nada, mulher in“dependente” nunca muda de opinião,continuava a dar trabalho aos meus pais, os seus relacionamentos agora não duravam muito tempo, principalmente quando os seus “namorados” descobriam que ela era uma mulher in“dependente”, os seus filhos, crescidos, começavam a criar mais afinidade com o avô e a avó, menos a mais velha, que assim como a mãe também tornara-se uma mulher in“dependente”. Enquanto isso, ela trabalhava como uma doida para cobrir os seus caprichos, mulher in“dependente também é vaidosa, e colaborava com pouco dentro de casa, quando minha mãe pedia mais colaboração por parte dela e mais participação na criação dos seus filhos, ouvia que estava fazendo até demais, mulher in“dependente sempre acha que o que está fazendo, é demais.

Meu irmão já adulto e eu casado, inconformados, observávamos aquela situação. Caramba quando nossos pais conseguirão descansar?? Ainda mais agora com os filhos adultos, prontos para aproveitarem o merecido descanso, tinham que cuidar dos netos??? Sempre que a questionávamos, a nossa irmã, com o seu jeito de mulher in“dependente”, mandava a gente cuidar da nossa vida, mulher in“dependente” nunca aceita opinião, a não ser de outra que também se acha mulher in“dependente”. Minha mulher, eu, e o meu irmão ajudávamos da melhor maneira possível.

Só que o tempo passa até para a mulher in“dependnete”, para elas então passa muito mais rápido e os meus sobrinhos gratos pelos cuidados e dedicação que os avós sempre tiveram com eles, chamavam de mãe e pai, também não aceitavam a maneira como a mãe ainda se comportava, mulher in“dependente” é meio confusa, nunca sabemos o que elas pensam ou acham que pensam de verdade, ficava cada vez mais isolada pelos pais, irmãos e os próprios filhos, orgulhosa dizia que não precisava de ninguém, porquê era uma mulher in “dependente”.

Já com os seus cinquenta e poucos anos, sozinha, mulheres in“dependentes” sempre estão em busca do homem perfeito, afinal elas são perfeitas, ainda trabalhando, sem o mesmo pique de antes, e ainda correndo atrás de sua independência financeira, já não transava mais com freqüência, as suas saídas também não tinham mais aquela volúpia, as suas amigas também in “dependentes” já não tinham a mesma graça de antes, quando saiam tentavam disputar com outras mulheres in“dependentes” qualquer homem que lhe desse a atenção, de vez em quando ainda conseguiam algum “franguinho”, que claro, não queria mais do que um assunto para a conversa do dia seguinte com os seus colegas de faculdade: “Cara comi uma coroa ontem, e ela ainda me deu cem mangos”.

E assim ela permaneceu, com quase setenta anos, algumas amigas in“dependentes” já tinham morrido, pegava-se meio adormecida relembrando os seus tempos de mocidade, e ficava a imaginar como seria se tivesse vivido como uma mulher “normal”, se tivesse se apaixonado, casado com o seu grande amor, que rejeitara, pois mulher in“dependente não se apaixona, a busca é sempre pelo homem perfeito, tivesse cuidado dos seus filhos, respeitasse os seus pais, ouvindo mais os conselhos, que acreditasse mais em seus amigos “normais”, fosse mais amiga dos seus irmãos, enfim que vivesse em mundo real.

E quando começava a bater o arrependimento, voltava em si, mulher in“dependente” nunca se arrepende do que faz, e com dificuldades levantava-se na busca de algo para fazer. Quando morreu nenhum dos filhos foi ao seu enterro. Pra quê??? Pensaram eles, mulher in“dependente” não precisou de ninguém quando viva, depois de morta então!!! Aliás, apenas a sua filha, que se tornara uma mulher in“dependente”, foi ao enterro chorando cabisbaixa, mas logo enxugou as lágrimas e saiu, afinal mulher in"dependente" não perde tempo chorando, coisa de mulher "normal" e partindo para não sei onde foi embora sem olhar para trás e de longe vendo a cena entendi que mulher in“dependente” também possui sentimentos”. O que me deixou muito mais confuso.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 25/05/2009
Reeditado em 25/10/2009
Código do texto: T1613413
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