## Purgante de Maná e Senna ##

Não, não pensem que já tomei isso. Nem sei que gosto tem, mas, segundo ouvi falar, é terrível, trava na garganta. Enfim, algo que imagino ser intragável.

E daí? - você me pergunta . Daí  estava lembrando que minha vó, todas as vezes que se referia a alguém, digamos, não muito  agradável (para amenizar o adjetivo cabível), dizia que "fulano era um purgante de Maná e Senna". Nem sei se isso é assim que se escreve e nem mesmo se esse troço existe, mas, segundo ela, existia e era terrível. Dizia que tomava quando adoecia.

Já me deparei várias vezes na vida com "purgantes de Maná e Senna" e é justamente por lembrar de minha vó que acabo amenizando a situação dessas agradáveis figuras.

Tinha uma "colega" de trabalho que todos os dias eu entrava na sala dela (nossas salas eram individuais) e dava bom dia. Sabe que ela mal olhava pra mim? Sempre ocupada, tão ocupada que, sem levantar a cabeça respondia:

"- Bom dia pra uns..."


Sou um pouco cara de pau para essas coisas e acho que em certas ocasiões o melhor mesmo é se fazer de idiota, quem sabe até de burra.

Se eu, diariamente tinha que olhar para ela, era melhor eu levar na boa o seu péssimo humor. Olha que ela respondia isso quando estava de bom humor! Quando não estava, eu entrava, dava bom dia e ela não dizia nada. Então eu pensava: "Hoje tá russo mesmo". Mas eu saía da sala, fechava a porta e voltava ainda mais empolgada:

- Bom dia, Fulana!

Meu Deus, a primeira vez que fiz isso ela riu! Juro gente, ela riu! Quase desmaio de tanta emoção!

Fiquei feliz, muito feliz em ver seus dentes. Ela era até bonita, mas amarga, muito amarga. Confesso que tenho pena das pessoas assim. Presas dentro de rancores, de complexos ou sei lá de que, fazem de um dia de sol, um mundo cinzento, pesado, carregado como nuvens negras...

Mas com  tempo ela tornou-se minha amiga, ou melhor, minha colega. Continuou sim, com seus dias negros, em que não me respondia, mas também tornou-se hábito em mim, abrir novamente a porta e desejar novamente um bom dia mais intenso. Não importava que tivesse que quebrar esse gelo todos os dias, talvez ela precisasse de mim pra isso.

Devo muito a ela, pois com ela aprendi a lidar com purgantes de várias espécies. Aprendi a não me deixar abater pelo mal humor alheio. Ao contrário, hoje sei que é melhor fazer-se de burra, de desentendida e levar na brincadeira. Um dia o gelo quebra, se não quebrar, paciência, não vai me abalar também.

Dedico essa crônica a todos os purgantes de Maná e Senna, com um beijinho doce de boa noite (rsrs).