O Prenúncio da crise americana, contado por imigrantes...

O Prenúncio da crise americana, contado por imigrantes...

(Crise americana, hipoteca, crise cambial, Goiânia, GYN, crônica)

Essa crônica foi escrita em escrita em 25.09.2008. Ela fala dos prenúncios da crise americana pelos indícios demonstrados no mundo do consumo, visto por imigrantes brasileiros e, não, por qualquer tentativa de análise dos complexos fatores. De qualquer forma, é um ângulo de visão. Espero que gostem.

Na região em que nasci, localizada há cerca de 100 quilômetros de Goiânia, existe um intenso fluxo de imigração para o exterior - goianos em busca de um pé-de-meia para reiniciar a vida, em seu país.

Dois dos meus irmãos fizeram esse périplo de sacrifícios, sofrimento e saudades, migrando para os Estados Unidos (um deles, trabalhou na Espanha, também).

Me lembro que, há cerca de cinco anos atrás, meus irmãos, contando sobre o que viram no interior da maior economia do planeta, diziam que, o americano médio era um sujeito virtualmente quebrado, que morava em casas hipotecadas, que rodava em carros financiados a longo prazo pelos bancos e, que, alimentavam seu consumo absurdo à custa dos limites dos cartões de crédito que, iam estourando, um a um.

Os dois me narraram acontecimentos e cenas que os deixaram impressionados, quanto aos hábitos de consumo e comportamento dos americanos - como foi o casa de uma moça, em uma loja, que exibiu mais de 10 (dez!) cartões de créditos à balconista, sem pestanejar, até achar um que tivesse crédito para autorizar sua compra e a outra, a de um americano que oferecera a um deles a camioneta, de graça, para trazer para o Brasil, se quisesse, quando estivesse voltando, mediante uma falsa comunicação de roubo e um "pendura" na conta da seguradora, ajuste comum entre americanos e a gente do México - o que o levou a concluir que a classe média América é composta de bebês sem cabeça, como diria Caetano Veloso.

Eles gostavam de repetir também, que, nas concessionárias de veículos, os imigrantes tinham mais crédito que os nativos, pois os comerciantes sabiam que os "ilegales" em geral, à parte cuidarem com responsabilidade das dívidas contraídas, ante os riscos envolvidos, tinham suas pequenas poupanças guardadas e garantidas e, conseguiam, por isso mesmo, financiar veículos sem nenhuma exigência burocrática mais complicada.

Por tudo isso, meus irmãos tinham uma opinião consensual de que, aquela situação não iria durar infinitamente e, que, a conta do abuso no consumo de supérfluos e, uso crédito e no financiamento (onde uma hipoteca ia sucedendo à outra, um financiamento maior "matando" um anterior e menor) não podia resultar em boa coisa...

Aí está, agora, justamente a crise cujo prenúncio meus irmãos viram de perto, que aconteceu num país onde o governo se gaba de se meter pouco nos negócios privados (uma senhora mentira, por sinal, em determinados setores), de ter um sistema bancário moderno e sadio e, ainda, governantes que... governam - tudo balela. O buraco negro do crédito podre agora corrói e estertora todo o sistema de crédito fácil, dos americanos quebrados e, agora, alquebrados.

A conta da aventura dos bebês sem cabeça na terra encantada do consumo colossal vai sendo distribuída às economias de outros países, de acordo com sua permeabilidade ao processo de globalização.

É espantoso como, nos dias que correm, os sistemas burocráticos, estatísticos e, de pesquisa científica, são infensos aos dados perceptíveis pelo bom e velho senso comum... Os economistas do FED, os políticos e burocratas de Washington, as empresas classificadoras de riscos econômicos, mega-investidores, a gente orgulhosa de Wall-Street - todos formados nas escolas de elite do país, agora exibem um vistoso nariz de palhaço.

A conta e a socialização do prejuízo é, evidentemente, de escala planetária - esse é o lado amargo da globalização e, pronto.

O Brasil, que teve o seu sistema bancário saneado por FHC através do polêmico PROER, também está nessa, embora as excelências de Brasília ainda não tenham entendido que ela vai afetar primeiro, o mercado, mas, depois, fatalmente, o sistema monetário, a balança de pagamentos e tudo o mais - as declarações de Meirelles, que, por sinal, foi presidente de um banco privado americano, me parecem espantosas, destituídas de realidade...

Meus irmãos, imigrantes brasucas que se movimentavam marginalmente dentro de todos os estados americanos, realizando serviços que os locais recusam fazer, conhecendo a intimidade e o comportamento dos yankees, não tinham dúvida - a festa do desvairio do consumo ia acabar numa tarde frívola qualquer, em frente ao caixa automático...