Um dia de chuva na Rua Onze

UM DIA DE CHUVA NA RUA ONZE

Na sombra do lírio burguês e na fresca aurora de um dia sonâmbulo e preguiçoso por natureza a encontramos reta e plena de si mesma confiante em seus anos idos e freqüentadores passageiros onipresentes em suas ações de más ações.

Há um grito de louvor a Deus quando surge o sol e desimpede o trânsito raro pelas suas elevações íncomes.

O sol surge acordando os pardais no telhado do velho casarão, suga impiedosamente as cristais gotículas de orvalho das folhas alegres do salgueiro.

Após intenso bombardeio de luz irradiante da estrela deusa. Após gotas de lágrima do luar não resistirem ao forte calor, evaporarem e subirem ao grande teto azul. Surgem, então, partículas amareladas, cor de terra, gosto de poeira. A poeira, devassa em sua natureza: intrometida em sua personalidade, surge intrépida e incoerente nos lugares que lhe convém e que ninguém a espera. E quem há de esperar?

Tudo passa como uma imagem descolorida onde esperávamos uma colorida alameda. Infelizmente, seus lares que, quem sabe, podem ser doces nos mostram um semblante desmitificado e desdobrado pelo tempo que não é muito. Chamam-te de avenida, ironicamente, é claro. Se não bastasse perder lugar de destaque para ruelas miúdas e alegres no seu dia-a-dia.

Ao crepúsculo ouvimos a ópera dos sapos nos convidando ao repouso noturno. A cobertura de cimento-amianto que mais parece zinco nos incomoda quando começa pingar os primeiros sinais de uma chuva forte que vem do poente. Vento, água. Água, vento. A enxurrada lava a calçada e leva alguns sonhos do passado para a rua.

E assim finda o dia na Rua Onze, como se nada tivesse mudado como se nada tivesse acontecido.

Valter Figueira
Enviado por Valter Figueira em 24/05/2006
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