ESTRELAS MOLHADAS

Enquanto os homens preparam a guerra; enquanto outros já a vivenciam em seu triste e prosaico cotidiano, recordo um fato inocente e belo que me aconteceu dias destes. De costume, seja pela manhã ou à tarde, rego as plantas de meu simplório jardim. A minha filha mais velha (7 anos) quase sempre me acompanha na rega e fica radiante quando passo-lhe a vez. Mas desta feita, foi a menorzinha (2 anos e 7 meses) com nome de musa inspiradora, quem me acompanhou . Era fim de tarde e as estrelas, aqui e ali, despontavam no céu. Ao acocorar-me junto de umas exórias amarelas, Marília imitou-me o gesto e foi com a mãozinha na mangueira, dizendo: painho, deixe em molhar também. Repetimos os gestos em mais dois ou três jarros quando ela levantou-se, apontou para o céu e disse: painho “molha láááá em cima”. Pensei que ela se referia ao céu e disse-lhe: é muito alto filhinha, não dá para alcançar o céu não. Ela protestou: Não é no céu não painho, é ali lá nas estrelas. Achei lindo e esguichei um jato de água para cima que se partiu em milhares de gotículas iluminadas pela luz do poste da calçada. Ela vibrou, bateu palminha e disse: Que lindo! Agora sou eu, painho.

Marcos Cavalcanti
Enviado por Marcos Cavalcanti em 28/05/2009
Código do texto: T1620401
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