EU ODEIO FUTEBOL E VOCÊ?

(Herivaldo Ataide – Maio/2009)

A paixão por um time de futebol começa desde cedo.

São nossos pais os maiores responsáveis por nossa dedicação a uma camisa, seus jogadores, e à bandeira do time, que é o estandarte maior do torcedor.

Essa paixão passa de geração em geração. Começa em casa e ultrapassa os muros da vida. Onde tem um adulto, um jovem ou uma criança, tem também um time de futebol com suas glórias.

Confesso quando era criança meu pai nunca me levou pra assistir uma partida de futebol. Vi pela TV o Brasil ser tricampeão na copa de setenta. Eu tinha oito anos de idade naquela época e antes disto nunca tinha visto nenhum jogo.

Imagine um ano depois eu fui passear no Rio de Janeiro com minha mãe e, claro, fui conhecer o Maracanã. Era época de natal e fomos ver a chegada de papai Noel. O estádio estava lotado de pais e crianças. Nunca tinha visto tamanha obra e tanta gente junta num mesmo lugar. Eu, um garoto do interior da Paraíba, me senti um mísero grãozinho de areia no meio daquela multidão. Saí de lá impressionado com o tamanho daquilo tudo. Hoje, quase 40 anos depois, lembro-me ainda até do cheiro do cachorro quente que comí lá durante aquele passeio.

Já adulto voltei ao Maracanã a trabalho quando filmava um documentário sobre o Zico, mas a sensação foi outra. Entrei, fiz o meu trabalho, como se aquilo não tivesse muita importância para mim. Na realidade não tinha mesmo, porque era apenas uma partida de futebol. Para os fanáticos era um clássico como é chamado entre Flamengo e Fluminense.

A vida me pregou uma dessas peças que agente nunca espera. Aos 18 anos, morando em Belo Horizonte, fui trabalhar na Rede Globo Minas. Passei por um estágio e depois de seis meses de curso fui contratado como funcionário. Minha função era operador de aúdio. Nessa modalidade de serviço, entre outras coisas, trabalhava nas transmissões de jogos que a emissora fazia durante o ano. Eram os campeonatos Mineiro e Brasileiro de Futebol, com jogos duas vezes por semana, um na quarta-feira e outro aos domingos, justamente no dia em que as famílias de quase todo o país se reúnem pra almoçarem juntas.

Aquilo me revoltava pois nunca podia estar presente. Tinha de estar na empresa às onze horas da manhã pra irmos ao Mineirão montar os equipamentos para a transmissão do jogo que só começava às cinco da tarde. Depois de encerrada a partida tínhamos de fazer as entrevistas com os jogadores e técnicos e só conseguíamos sair de lá por volta de nove ou dez horas da noite. Era um dia todo perdido em nome do futebol.

Trabalhei durante seis anos nesta firma. Quando saí deixei muitos amigos e levei comigo a saudade de momentos bons junto deles. Mas carregava comigo uma felicidade enorme em saber que não seria mais obrigado a ir a um estádio de futebol.

Por esta e por outras me tornei um adulto desprovido do fanatismo por essa modalidade esportiva. Não sei se isto foi bom ou ruim para a construção do meu caráter, mas o fato é que só gosto de acompanhar, pela televisão, os jogos da seleção Brasileira. Em cada partida assistida penso nos profissionais que estão trabalhando e se eles realmente gostam do que fazem.

Na qualidade de tio me senti na obrigação de ajudar minha sobrinha Monique, formada em jornalismo, que havia recebido de uma editora, a incumbência de transformar a história de alguns times de futebol em revistas de quadrinhos, a fim de conquistar o torcedor desde criança.

Na minha triste filosofia acho que é só uma forma de arrecadar dinheiro pra engrossar as contas bancárias dos times e da própria editora.

Como ela estava sobrecarregada, e o prazo dado Ter sido muito curto, achou de me pedir auxílio. Mandou-me um resumo sobre a história do time e me pediu pra desenvolver um roteiro. Justamente eu que não gosto do assunto tive de criar o texto do tal livreto.

O trabalho ficou melhor que o esperado e me fez pensar em escrever sobre futebol. Um escritor em início de carreira não pode escolher os temas, simplesmente tem de escrever. Assim sendo, aqui está esta pequena crônica em que me redimo do belo esporte e seus espetáculos grandiosos e ao mesmo tempo em que reitero: “eu odeio futebol, gosto mesmo é de escrever.

Dedico este texto à minha sobrinha Monique Ataíde Mendes.

Herivaldo Ataíde
Enviado por Herivaldo Ataíde em 29/05/2009
Reeditado em 03/06/2009
Código do texto: T1622174
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