"A Ilha da Fantasia"

Temos que reconhecer que a prática de esportes está sendo um sustentáculo para o desenvolvimento dos povos, especialmente no Brasil, onde a grande massa da molecada concentra-se nas periferias e nas favelas. Por essa razão que as iniciativas voluntárias ou os trabalhos vindos do estado, visando criar elementos úteis para o desenvolvimento futuro do País, são de grande importância para combater o desvio de conduta, proveniente dos ambientes favoráveis à delinquência infanto-juvenil. Para isso, o incentivo às práticas esportivas é um caminho de linha reta ao aprendizado de disciplina, de força de vontade, de aceitação de desafios para superar limites, enfim, é um dos caminhos que criam futuros cidadãos aptos a enfrentarem os percalços da vida, com sabedoria, com honestidade, com respeito e lealdade aos semelhantes, principalmente com o ganho de entusiasmo para sempre estarem preparados em começarem de novo, diante de uma derrota, não esmorecendo nunca.

Por outro lado, o esporte também é um ótimo remédio contra a ociosidade e a depressão por isolamento, ao mesmo tempo em que obriga as pessoas a se ocuparem com a socialização, com a convivência, com a doação de si mesmas para alcançarem objetivos bem definidos, como acontece com os esportes coletivos, onde cada um faz parte de um todo e todos lutam para uma vitória em comum.

É uma pena que o homem tenha a capacidade de destruir e de desvirtuar o lado bom das coisas, na procura de satisfazer interesses próprios ou de grupos, em detrimento da abertura da visão ampla dos povos, porque, quanto maior for o número de pessoas que se deixem levar pela ilusão infantil do “faz de conta”, será o quanto mais as nulidades prosperarão e o quanto mais o mundo todo estará “enfiando o pé na jaca”. Pensando bem, o que poderá justificar a profissionalização no esporte? Pra quê criarmos times de futebol profissional, com diretoria, comissão técnica, sedes dispendiosas, manutenção de jogadores mercenários, muitas vezes convertidos em grandes estrelas ou heróis nacionais, até o momento em que venha a cair a máscara, demonstrando o grande engodo a que estamos sujeitos ao confiarmos nesses “caras”.

O pior nisso tudo é que, por esse caminho, nós, os torcedores, passamos a defender as cores do nosso time, como sendo algo de grande valia para a evolução da humanidade, o mesmo acontecendo com as rivalidades internacionais, onde os grandes eventos, como o Pan ou as Olimpíadas, não passam de formas de guerras veladas, onde cada nação quer superar os adversários, para dar mostras de superioridade e de patriotismo exacerbado. Hitler usou os eventos esportivos para mostrar ao mundo que o povo alemão é constituído de uma raça superior, o mesmo acontecendo com a extinta União Soviética e, atualmente, com o regime cubano, que quer iludir a todos, com o fito de demonstrar a excelência da ditadura comunista, através da superação dos seus atletas; no entanto, por que será que esses mesmos grandes atletas estão desertando de seus grupos, pedindo asilo político aos países estrangeiros?

Não temos como encontrar justificativa para se despender perto de quatro bilhões (!?) com os jogos Pan-americanos, para que atletas profissionais demonstrem suas qualidades absolutamente inúteis para a evolução da espécie humana (pular, correr, chutar, bater, nadar etc.), levando alegrias aos seus povos, lógico, levando tristeza aos povos adversários, a troco de nada, ou seja, de um determinado número de medalhas, que não servem para coisa alguma, a não ser unicamente para massagear o ego dos profissionais, que irão continuar pulando, correndo, chutando, batendo, nadando etc., indefinidamente, à nossa custa e com nosso apoio incondicional.

Chegou a hora de começarmos a rir. Chegou a hora de rirmos de nós mesmos, porque, apesar de tudo o que está acontecendo de grave neste planeta, em vias de entrar em rota de implosão, continuamos irresponsavelmente vivendo na “Ilha da Fantasia”.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 30/05/2009
Reeditado em 04/11/2010
Código do texto: T1622515