VERDE-AMARELO

VERDE-AMARELO Maria Teoro Ângelo

As vitrines e a decoração tingiram o Brasil com sua cor oficial. Para onde se olha, no comércio de uma maneira geral, tudo está verde-amarelo. As indústrias vêm trabalhando a todo vapor para produzirem desde tênis a bonés, passando por bolas e camisetas, meias e roupas íntimas, lenços e chaveiros, adesivos e tatuagens, biquínis e bandeiras, pulseiras e apitos.

O patriotismo tão constantemente atingido, melindrado, estremecido pelo panorama político, pela violência, pelo ceticismo cede lugar a um sentimento ufanista. Os jogadores convocados são promovidos a salvadores da pátria, heróis nacionais, nossos reis, gênios da lâmpada invocados para realizar um único desejo: fazer o Brasil campeão.

Um sentimento de nacionalidade começa a unir as pessoas em torno de um só propósito. A torcida uniformizada será uma só. Muita emoção é esperada quando os jogos começarem. A alegria com cada gol será coisa bonita de se ver. O coração precisa ter cuidado para não parar. Quem vai parar com toda a certeza será o Brasil, mas por uma causa boa. Nesse momento será admirado no mundo todo e por lá nossa bandeira é transformada nas camisas dos ronaldos que são encontradas em qualquer loja.

Quando os jogos começarem, o Brasil jogando ou não, haveremos de torcer contra os times mais fortes, consultar as tabelinhas, dar todos os palpites, antever o futuro, pesar as chances, acompanhar os boletins especiais que a imprensa apresentar , modificar nossos horários e tudo girar em torno da Copa.

O país tão criticado pela falta de segurança, pela falta de brio de alguns de seus cidadãos é agora alvo de respeito. Com brasileiro não há quem possa. Apenas onze homens farão o milagre que todos querem ver na televisão: a bola entrando no gol do adversário. Que tal encher a fruteira com bananas verdes e amarelas, servir omelete com espinafre, salada de rúcula com manga e se fartar com um copo de suco de laranja e outro de limão com hortelã para fazer a dobradinha da sorte?

As pessoas vão chamar amigos, organizar churrascos, comprar bebida, porque alegria deve ser compartilhada . Quem não gosta de assistir aos jogos, para não maltratar o coração com a ansiedade, vai ser avisado com os gritos que ressoarão em uníssono e pelos foguetes que encherão o ar de fumaça e barulho.

O futebol é parecido com a vida. Lá e cá temos de driblar os obstáculos, suar a camisa, correr atrás do objetivo, ouvir críticas, respeitar as leis do jogo, trabalhar em equipe, ouvir o apito da nossa consciência quando cometemos faltas, não atingir o concorrente com golpes baixos, fazer o melhor para ter sucesso e ser aplaudido quando fazemos nosso gol. Depois começar tudo de novo e tentar vencer para não decepcionar a torcida e a nós mesmos, porque vitória é tudo o que queremos conquistar em tudo o que fazemos.

Bom momento para muitos se inspirarem nas lições que os esportes e em particular o futebol trazem e ensinam. Pena que a aula só acontece de quatro em quatro anos.

23/05/2006

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 25/05/2006
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