VIVER: NAVEGAR OU FICAR À DERIVA

          Viver é um pouco como navegar. Há dias de tempestades, dias de ventos tranquilos. Os oceanos podem ser seguros ou perigosos. Podemos navegar seguindo rotas conhecidas, cartas marítimas, de fácil tradução, ou ficarmos à deriva. 


          Mas, mesmo quando estamos à deriva é preciso saber que há vida além dos mares conhecidos nos mapas, que há outros caminhos além daqueles indicados pelas bússolas e/ou astrolábios, que há outras histórias além das que contamos em nossos diários de bordo. 
Precisamos saber que além das lendas dos monstros marinhos, dos mitos existentes nos mares, há miragens, portos nem sempre seguros, ilhas flutuantes, botes salva-vidas, vertigem e terra à vista. 

          Há um mar dentro do mar, e quem navega precisa conhecer a sua profundidade secreta;  nele se escondem os mistérios da vida e a fonte de onde jorra a poesia, mas, a vida, neste mar, é escrita cifrada à espera de significação. 
 Quem navega precisa olhar a costa, o farol na torre, os olhos atentos deixados na praia, buscar os radares, as cartas de navegação e, nelas, encontrar a corrente de ar que o levará de volta a terra firme. Caso contrário, se corre o risco de ficar à deriva. 

          Ficar à deriva é estar à mercê do desconhecido ou no mar das descobertas, dos desafios, dos espantos; é se sentir perdido ou encontrar na adversidade dos ventos, um motivo para recomeçar, fazendo das tempestades a força que colocará a embarcação de volta aos mares tranquilos; é sentir medo de morrer ou olhar as velas balançando perigosamente e, acreditar que, naufragar é apenas uma possibilidade: navegar é uma grande certeza. 


          Quantas vezes ficamos à deriva de nossos medos, das nossas incertezas, das inúmeras dúvidas e, inundados pelas águas, jogados em nosso barco, não vemos os botes salva-vidas bem a nossa frente! Muitas
vezes, assustados pelas miragens de nossas desconfianças, não percebemos a verdade e nos afogamos na decepção, na amargura.
 
          Navegar é preciso, ficar à deriva é escolha. Mesmo que os mares se enfureçam, que a tranquilidade desapareça é preciso coragem para não se deixar levar pelas águas turbulentas dos mares do desespero.
 

          Nunca podemos esquecer que o mar, este gigante que nos fascina – e às vezes amedronta –, um dia já foi rio e só se fez grande por que não teve medo de seguir seu curso natural, de misturar-se a outros rios e formar um grande oceano. Sejamos também corajosos.
 
          Vamos percorrer nossos caminhos, descer montanhas, formar cachoeiras, ser riacho tranquilo, rios perenes. Vamos seguir o curso das águas com sabedoria, e um dia, não mais teremos medos de ficar à deriva, pois teremos pleno conhecimento dos mares que navegamos.




                           


*Fotos tiradas no rio tocantins - Pa.

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Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 02/06/2009
Reeditado em 02/06/2009
Código do texto: T1628966
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