Meu Computador Amigo

Nem sei o que digo para vocês neste momento. Talvez eu não saiba o que acontece comigo depois de perder algo que para mim era, e é, importante.

Todos nós temos algo que é importante. Seja ele de grande valor ou não. Eu tenho um amigo a mais ou menos uns seis anos. Eu conto tudo para ele. Conto como estou, como fico e falo de todo o meu estado. Não tem ninguém neste mundo que saiba mais da minha vida do que ele. Nele e pra ele me declaro em forma de poemas, de poesias, de contos e crônicas. Ele não fala comigo, só eu falo com ele, mas a gente se entende muito mais do que várias pessoas que vivem por este mundo, mais que muitos amigos, porque eu acho que o nosso relacionamento é (era) tão bom.

Estou falando de um amigo e aproveito o assunto para falar de outros amigos que, na verdade dizem ser amigos, mas na verdade são hipócritas fariseus, pois à hora de provar sua amizade, sua fidelidade, dão o toque de traição, de perfídia a quem chama de amigo. O verdadeiro companheirismo e a verdadeira amizade só são provados nas horas da tempestade.

Tem amigo que por besteira vira as costas para você. Tem amigo que nas horas que você mais precisa dele, ele não te ajuda. Tem amigo que debocha de você na frente de pessoas estranhas. "Tem amigo da onça". Tem amigo fofoqueiro. Tem amigo papagaio. Tem o amigo “leva e traz”. Tem amigo incompreensível, ignorante, arrogante, prepotente e que te coloca em situações difíceis. Para mim quem tem esse tipo de amigo não precisa de inimigo ou de problemas.

De repente acontece um fato entre você e seu amigo, mas por ignorância ele não te entende e, como você não quer dar o braço a torcer, não sede; o assunto vai se complicando, se complicando e quando você vai ver, seu amigo se torna seu ex-amigo. Sempre por motivos banais. Sempre por motivos simples que dariam para ser resolvidos com uma pequena pitada de paciência e uma mãozinha de sabedoria. Afinal vocês nem se lembram mais o motivo da briga - e continuam brigando ou separados. Neste caso eu nem sei mais quem dos dois é o errado, então, prefiro ficar distante e omisso a este assunto.

Meu amigo nunca brigou comigo e nem eu com ele. Ele nunca reclamou comigo. Só ouvia-me dizer meus problemas, as minhas dificuldades, minhas lamúrias, minhas tristezas, minhas alegrias, dos meus sonhos, das minhas fantasias...

Eu tenho que me declarar pra ele! Pois, ele sim nunca me deixou na mão – a não ser é claro quando acabou a força. Ouvi dizer que pra ele ainda tem cura. Ele está meio velho, cansado e precisa de um profissional para curá-lo, para consertá-lo. Eu preciso de me abrir para ele! Eu preciso somente que ele me ouça dizer que o amo! Pelo menos uma vez.

Meu amigo não está com resfriado, nem com catapora, nem com sarampo, nem com qualquer tipo de histeria que os seres humanos podem ter. Só sei que ele está com um vírus; um vírus que o deixa debilitado, que não o deixa se comunicar com ninguém. Ah, esse vírus tem que sair! Pois ele tem cura! Mas se precisa de dinheiro para repeli-lo. Para curar seu cansado, meu amigo precisa de dinheiro, assim como toda doença deste mundo – apesar de que tem algumas doenças que é só por Deus, pois são na alma; e outras que não tem cura.

Se meu amigo fosse gente... Se meu amigo fosse bicho... Se meu amigo fosse ser vivo... Se meu amigo não fosse uma máquina...

Meu amigo é um computador que ficou com um vírus por causa de um CD Demo. Meu computador é velho, mas ainda tem cura. Eu só não tenho o dinheiro pra poder curar suas feridas. Sinto falta dele, pois somente ele que me entendia, só ele que escutava, só ele que me deixava contar as mais puras engraçadas histórias de amor, histórias de vida, histórias alegres e tristes como eu mesmo já disse.

Meu computador... Um dia eu o terei novamente!... Ah, se as pessoas amassem uns aos outros pelo menos como eu amo este computador! O mundo – tenho certeza – seria completamente diferente.

20/02/02 00h05min

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 05/06/2009
Código do texto: T1633943
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