Carta de Amor

Não sei. Não, não sei mesmo. Não sei o tamanho. Mas, respondendo a sua pergunta, amei.

Sim. Amei. Amei antes. Amei uma vez. Amei intensamente. Amei demais. Foi amor, assim, sabe? Um amor assim arrebatador, que durou muito tempo. Porque amor que dura pouco é paixão. Já me disseram que amor não acaba. Então, fala sério! O que foi aquilo? Quanto tempo dura uma paixão? Porque, se foi paixão, putaquepariu!

Pois é. Amei. Confesso que amei muito. Amei de todas as formas, em todas as posições, de todos os jeitos. E em quase todos os lugares. O meu amor superava todas as formas de rejeição, todos os dias de solidão, todos os rachados incuráveis. É, foi um amor sofrido... Mas um amor que também viveu todos os precipícios de hora, todas as diferenças de tempo, todas as formas de querer...

Meu amor brincou de cosquinha, inventou codinomes, pediu mac donald´s, disputou minutos de beijos, se escondeu, apareceu, dançou axé, samba e dançou muito forró. Meu amor inventou passos, inventou carinhos. Meu amor viajou pra praia, fez praia, estorou garrafa de champagne, gritou “ano novo”, gritou “carnaval”, “páscoa”, “aniversário”, “natal”, etc. Meu amor fez muita graça, vestiu muito pra comemorar muita coisa, fez formatura, casamento, bodas... E meu amor, o meu específico, quis muito fazer bodas. Meu amor comeu muito cachorro quente, matou muita aula, tomou muita cerveja e fez muito, muito sexo.

Abri os olhos e vi. Quando vi... O meu amor não queria morrer, não queria acabar, mas acabaram com ele. Sei lá porque. Mas meu amor foi-se acabando aos poucos até que deixou de existir. Doloridamente. Deixou de ser. Deixou. Deixei.

E quando parou de doer não doía mais. Mais nada. O meu amor não sei bem se agora é nada. Ou se já foi o que era pra ser. Ou, sei lá! O meu amor, sabe bem como foi, foi pra toda a eternidade.

Não peço mais esse amor. Porque ele já foi. E foi muito. Talvez mais até, sei lá. Não cobro isso mais. Não espero. Portanto, não entendo como pode ser, assim, tão complicado. Respondi a pergunta. Sim. Amei. E não pode ser só assim? Sinto muito. Não quero esse fardo. Não entendo. Mas não quero a responsabilidade.

Um amor tem que ser viável. Tem que ser duplo, tem que ser (co) respondido. E não. Não. Não quero ser. Me desculpe. O seu esforço em dobro não compensa o meu em dívida. Foi mal. Mas não serei eu o seu grande amor.

Não farei de ti o amor sem correspondência, o amor triste que não comeu cachorro quente, que não dançou na chuva e que não fez sexo assistindo Titanic. Não farei de você o amor que não procede, que não ama.

Não farei um amor só seu. Porque, infelizmente, meu bem, infelizmente, não é meu.

Carol Bahasi
Enviado por Carol Bahasi em 26/05/2006
Código do texto: T163511