Sem título

E porque há que ter título? Quem quiser que leia e lhe encontre o título, eu não sei sequer o que vou escrever, não tenho qualquer ideia preconcebida e então vou matraqueando as teclas deixando correr o que sair, que o importante é não parar para pensar; assim talvez discorra alguma prosa digna, que isso de pensar só; só pode produzir inacção ou extase pessoal e intransmissível, e isso não convida ninguém, não comunica senão com o firmamento ou com o nosso intimo o que não serve a ninguém.

Quero servir com palavras firmadas registadas extravasadas ainda que seja num recanto do meu disco rígido, ou na caneta ou no Recanto das Letras se no fim o atirar para lá assim um orfão.

Isto de títulos é de um valor variavel, aleatório, umas vezes prometem e não têm fundo, outras são cabeçalho tolo de profunda matéria.

Para não induzir ninguém em erro de análise, deixo o título assim: |____________________|. Podia escrever: Te amo, Meu sonho de Amor, Parabéns meu bem, Feitiço de amor, Bruxas eróticas, Caminho da Luz Divina, Conto chato, Conto de encanto, Desconto, Altar sem santo, Vida e morte, Morte só.......eu sei lá, e como não sei lá nem cá; cá vai um vácuo branco puro e virginal.

O leitor leia que é a sua obrigação e invente titulos e me forneça se não é escritor. Eu precisava ser mas não tenho título de tal arte, se o leitor o tem aplique com o critério que eu não tenho. Acho que precisava de ter um fornecedor de títulos. Com títulos de um especialista talvez eu pudesse atingir os distraidos, os impenetráveis e os permeáveis, os outros estariam á mercê. Nunca poderia ser jornalista creio eu, aí o título é tudo o resto quase nada.

O titulo afasta ou cativa. Prezo quando não são meus. Os meus cheiram-me a falsos, setas fora do alvo, balas perdidas chutos no travessão enfim um desastre.

Será que a matéria é delicada? Talvez. Gostava de ter um inventor de títulos, uma máquina, por exemplo, de meter moedas e sairem títulos, aliciantes, chocantes, picantes, hilariantes , fascinantes, mirabolantes, espanpanantes, cativantes, doces, ternos, espirituais, meigos, vinculantes, sonantes ou sussurrantes. Desse geito talvez fosse capaz de dar um corpo belo a tais cabeças.

O nome das coisas, como dos seres amarra a sua liberdade.

Apenas a poesia se liberta e voa soltamdo-se da própria palavra em que se arrima. Se eu fosse poeta dispensava títulos palavras livros e toda a escrita para libertar apenas no Universo a luz sublime de aromas e perfumes intensos, suaves, brandos etéreos e eternos.

Escrever seja onde for é sempre desenhar na areia. Tudo se move, funde, muda e apaga, mas eu creio que os poetas não se apagam nunca quer eles escrevam, digam, ou até calem a voz e ergam só e apenas o olhar de luz.

A propósito deste título vazio, encho estas linhas, dilato-me, percorro-me, vagueio, divago, mas é apenas meu dever orando ante o altar dos Deuses e Poetas e entregar-lhes todos os títulos do Mundo.

Arbogue
Enviado por Arbogue em 09/06/2009
Código do texto: T1640698
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