Meu avô Juquinha

Esther Ribeiro Gomes

Eu vou contar para vocês, a história do meu avô, José Francisco Ribeiro.

Homem simples, trabalhador, casou-se com minha avó, Maria das Dores de Almeida Prado e herdou do meu bisavô uma fazenda de café em Jahu, interior de São Paulo.

Foi homem de caráter ilibado, mas também de costumes engraçados que lhe valeram o apelido de ‘Na Ribeiro’, ou ‘Juquinha na’...

Tinha o hábito de dizer ‘na’ no final de cada frase.

Por exemplo, dizia para mim: - Beba café, Estherzinha, que tem vitamina, na.

Certa vez, ele, minha avó e minha mãe estavam num hospital em São Paulo, porque minha mãe ia tirar as amídalas. Meu avô ficou na recepção fazendo a ficha e estava demorando muito. Minha avó, preocupada, foi atrás dele. Quando o encontrou, ele estava discutindo com a recepcionista e o diálogo era mais ou menos assim:

- Sua cidade é Jahuna?

– Não senhora, é Jahu, na.

Ao que a recepcionista retornava: – Então?! Jahuna!

E ele respondia: - Não é Jahuna, na, é JAHU, NA!

Minha avó precisou intermediar esse diálogo para esclarecer a recepcionista, que já se encontrava com ânimos exaltados.

Meu avô Juquinha nunca tirava seu chapéu ‘Panamá’. Um dia, ele ia com amigos para sua fazenda em Mato Grosso num jipe sem capota, quando o vento arrancou seu chapéu. Nervoso, ele gritava: -Pára, na! Pára, na!

E o motorista dizia:- Não é Paraná, seu Juquinha, é Mato Grosso!

E isso se repetia muitas vezes, até que alguém se propunha a esclarecer ou ‘traduzir’ a linguagem muito pessoal do meu avô. Esse tipo de mal entendido era comum acontecer com ele...

Em Jahu, contavam muitas histórias engraçadas, protagonizadas por meu avô Juquinha. Mas, apesar de seu lado bizarro, era extremamente generoso!

Depois que os escravos ganharam a liberdade através da Lei Áurea, começaram a chegar os italianos para trabalharem nas fazendas. Na Itália, a terra é branca, eles nunca tinham visto essa cor vermelha das terras da região de Jahu. Quando chegavam, admirados, diziam:

- Terra rossa! Que quer dizer terra vermelha. Mas o povo daquela região, que não entendia o italiano, dizia terra roxa. Vem daí o costume que perdura até hoje de denominar ‘terra roxa’, a terra vermelha.

Um dos empregados da fazenda do meu avô não se acostumou com o trabalho na roça. Pediu então que lhe pagasse seus direitos porque queria abrir uma sapataria na cidade. Meu avô Juquinha não só pagou tudo que lhe devia, como também comprou uma loja no centro de Jahu para ele começar o negócio!

Passaram-se muitos anos, minha avó já havia falecido e minha mãe foi passar férias com meu avô no hotel ‘Qui si sana’ (Aqui se cura) em Poços de Caldas. Naquela época o jogo não era proibido e eles foram conhecer o famoso cassino do hotel. De repente, um belo moço, bem alto (meu avô era baixinho) ergueu meu vozinho do chão e exclamou:

- Seu Juquinha, que prazer em revê-lo!

Meu avô, surpreso, perguntou : – Quem é você?

E ele disse: - O senhor não se lembra de um menininho que sempre lhe abria o portão da fazenda e o senhor me jogava moedas? Meu avô, pensativo, então recordou daquele menino... E aquele moço elegante falou: - Eu sou o filho daquele italiano que o senhor ajudou há tantos anos! Graças à sua generosidade, meu pai prosperou naquela sapataria e hoje temos uma rentável fábrica que vende sapatos para o Brasil inteiro e até para o exterior! Foi um encontro muito feliz e agradável!

Tenho muito orgulho do meu avô Juquinha! Ele honrou o nome do meu bisavô que alguns anos antes de ser assinada a Lei Áurea, alforriou seus escravos e D. Pedro II enviou-lhe uma carta em agradecimento! Os escravos do meu bisavô, por serem muito bem tratados, não quiseram deixar a fazenda, mesmo depois de libertos! Pediram para permanecerem com ele, pois não tinham para onde ir e também porque gostavam muito da minha família. Então meu bisavô os contratou com um bom salário!

Minha mãe, professora de francês hoje aposentada, mulher guerreira que ensinou-me a respeitar a família, e a valorizar nossas raízes!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 09/06/2009
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