Quero a sua risada mais gostosa

A risada parecia tão real que fiquei procurando por uma criança ao meu redor. Pena, era um celular. Só percebi quando reparei uma senhora, logo atrás de mim, procurando desesperadamente o aparelho dentro da bolsa. Na gravação o safadinho dobrava a risada, faltava-lhe fôlego. E eu torcendo para a mulher não encontrar o celular tão cedo. A gargalhada era contagiante, daquelas que você acha que vai, literalmente, morrer de rir. Até que um “alô“ maldito fez calar a risada graciosa de bebê.

Não sei porque ela tinha que atender, não pode ter algo mais importante do que ouvir aquela gaitada de dobrar o ventre. Pensei em colocar a gravação no meu celular, mas desisti. Exatamente porque eu jamais interromperia aquele lindo risinho alto e puro, frustrando quem quisesse conversar comigo pelo fone móvel.

O mundo nos ensina a sermos funcionais e atender as demandas do celular, ícone do pragmatismo louco dessa vida que não tem graça nenhuma. A vida não pode ser tão séria assim. Esse negócio de “alô, alô, alô” o tempo todo não atende as chamadas do meu coração que pede para rir mais. Pedem o meu CPF quando eu só quero dizer o meu nome. CPF não ri, meu nome é uma piada. Exigem o meu contra-cheque, mas eu queria deixar um fio do meu bigode, que não é contra nem a favor de nada, muito pelo contrário. Eu levo o álbum das últimas férias, mas só querem ver a foto do meu RG – onde ninguém se gosta. Quer saber de uma coisa: “Eu não estou, deixe a sua mensagem, quando eu cansar de rir talvez eu atenda”.

Posso ter perdido a minha ingenuidade, mas não quero perder a sensibilidade. Posso ter esquecido a piada, mas quero continuar sorrindo. Pode a musica ter parado de tocar, mas continuo dançando no mesmo ritmo. Nesse marzão da vida navego em “Vitoriosa”, do capitão Ivan Lins, para me deixar embalar nas ondas de quem sabe rir, porque acredita que a vida pode ser maravilhosa. Quero, escandalosamente, perder a vergonha de ser feliz.