A SACOLEIRA E O AVIÃO II

Nada melhor do que viajar de graça por este imenso país. Juntamos algumas milhas e marcamos a passagem para Natal. Eu e minha mulher somos apaixonados por aquele litoral e aproveitamos, também, para resolver alguns assuntos no interior do Rio Grande do Norte, mais precisamente em Pau dos Ferros. Chegamos ao aeroporto lá pelas dez da noite para embarcar no vôo que sai às onze e cinqüenta. Feito o “check-in” resolvemos comer algo e depois esticar as pernas na sala Vip proporcionada pelo cartão de crédito. Sala esta localizada entre as alas um e dois do aeroporto de Cumbica e que entre outras coisas propicia um banheiro limpo, internet, sucos, cafés e poltronas massageadoras. Ledo engano. Depois de comer vínhamos pelo corredor e escutamos uns berros de “Pauferrense! Pauferrense!”. Não houve como não notar e fomos imediatamente abordados por uma senhora em cujo carrinho haviam duas sacolas plásticas incrivelmente abarrotadas e uma mala que seguramente pesava uns trinta quilos. Ela esperava uma boa alma que a ajudasse a passar pelos aparelhos de “raio-x” que aguardam a todos antes das salas de embarque. Por incrível que pudesse parecer, aquela senhora tem um “know-how” extraordinário para evitar que lhe cobrem eventuais excessos de bagagem. Pois muito que bem. La fomos nós ajudar a conterrânea e suas sacolas a passarem para a sala de embarque. A operação rendeu boas risadas, uma dor nas costas que perdurou teimosamente por vários dias e a perda das mordomias da salinha vip. O “know-how” de que já falamos consiste em não despachar a totalidade dos volumes e tentar embarcar como se fossem bagagem de mão. É claro que na porta do avião a mala foi confiscada e colocada juntamente com as outras na barriga do avião, mas sem a cobrança de nenhuma taxa ou multa. Já as sacolas foram parar nos bagageiros que estão sobre a cabeça das pessoas em uma operação que teve de envolver inclusive o comissário de bordo. A totalidade da comédia rendeu uma viagem mais lúdica e muitas estórias ainda a serem contadas. Sem dúvida nenhuma, se trata de comerciante das mais espertas, que além de não pagar impostos e fretes ainda obtém lucros astronômicos com a revenda das mercadorias. Além desta incrível cara de pau, digamos assim, esta pessoa é possuidora da mais peculiar visão da geografia da capital paulista. No seu modo de ver nada impede que a Rua José Paulino se transforme em Oscar Freire e que o Brás seja travestido em Pinheiros. Uma vez em Natal, no desembarque, qual não foi a nossa surpresa ao vermos a sacoleira encontrar outra, que já estava a sua espera no saguão do aeroporto às três da manhã. Ambas, ali sentadas, eram possuidoras de mercadoria suficiente para encher uma Van, e eu tenho minhas dúvidas se ia haver lugar para o motorista.

Ocirema Solrac
Enviado por Ocirema Solrac em 11/06/2009
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1643757
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