O BOTÃO AMARELO

Que chatice! Queria usar justamente aquela camisa amarela que já tinha vestida, mas estava com um dos botões quase solto. Chamou a mulher com maus modos.

Para isso ela servia, não era? Por que não pedia à bela colega do escritório que também pregasse seus botões?

Ele resmungava, tentando desviar a conversa. Mas o estratagema teve o efeito contrário, e ela exaltou-se mais ainda. Ameaçou já com a agulha e a linha na mão que, se a coisa continuasse, lhe pregava o botão num certo lugar! Desaforo!

Ele calou-se. Seria ela capaz disso? Já se tinha visto de tudo: ataques furiosos à genitália masculina com facas de cozinha, com ácido e com água fervente. Acabou por não sair. Achou melhor não. Leu o jornal em atitude discreta enquanto ela punha a cozinha em ordem e verificava o se uniforme e os livros do filho estavam no lugar para do dia seguinte.

Só se deitou quando ela já dormia.

Dormiu um sonho agitado naquela noite: tinha um botão pregado no pênis. Sonhou que ele e a mulher faziam amor, e ela se debulhava em ais de prazer com o inusitado incremento erótico. De repente, um grito interrompeu o coito. Ele tinha perdido o botão dentro dela. O pior de tudo é que, estando ela grávida, era evidente que a criança nasceria com um botão amarelo pregado na testa.

Acordou atordoado e, de um pulo só, deu por si sentado na cama embaraçado com a ereção. Suores gelados. A mulher passou-lhe a mão na testa, nos cabelos. Ssss... Ssss... Estava tudo bem, tinha sido só um pesadelo, que se acalmasse e voltasse a dormir.

Lentamente voltou a deitar-se. Ficou todo encolhido no seu lado da cama, voltado para a parede, calado com os seus botões.

Anabela Bingre de Négrier
Enviado por Anabela Bingre de Négrier em 28/05/2006
Código do texto: T164381