O MACHADO E A FLECHA

Muito já foi dito sobre Machado de Assis e seu romance “Dom Casmurro”.

Se a traição de Capitu foi real – afinal, seu nome “ Capitulina” seria derivado de capitular – ou virtual, visto Bentinho ser filho de uma viúva carola cujo desejo maior era vê-lo padre (e que teria insidiosamente colocado dúvidas na cabeça do filho a respeito do caráter de Capitu).

Com certeza, o único que poderia acabar com essas dúvidas seria o próprio Machado, ou seja, a dúvida há de permanecer!

Entretanto, transcrevo um pequeno capítulo, que, para mim é um dos melhores do livro, se não o melhor!

CAPÍTULO CXIX

NÃO FAÇA ISSO, QUERIDA

“A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje, quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo.”

Machado demonstra aí toda a sua genialidade.

Primeiro, ao conversar diretamente com o leitor, num momento ímpar da literatura.

Depois pela crítica elegantíssima: o leitor abriu o livro para descansar, é um fútil afeito aos romances açucarados de finais felizes.

Por fim, ele nos engana a todos, fingindo uma mudança de rumo que já sabia impossível!

“Dom Casmurro”, muito mais que um romance, é uma tragédia: a tragédia da dúvida - escolher entre o amor de mãe ou o amor carnal, saber se foi ou não traído, e sobretudo, a tragédia da solidão, solidão de um homem predestinado (e que culpa tem os predestinados?) a ser infeliz.`

É Machado no auge de sua sensibilidade: cortante, desagradável, trágico e eterno.

Uma flecha certeira no coração dos leitores!

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