Rolava a Beleza, a Candura e a Graça

Rolava a Beleza, a Candura e a Graça

Evane A. Barros Barbuto

Meninas-moças, em tempos que não vão tão longe, quando passavam ouviam músicas que os rapazes recitavam, impregnadas de romantismo. Eram“cantadas” inocentes e respeitosas comunicando admiração e interesse- toque romântico da poesia que a música trazia. Quando Tom e Vinícius lançaram “Garota de Ipanema”, todo mundo viveu um pouco daquela garota “ Olha que coisa mais linda/ Mais cheia de graça/ É ela menina que vem e que passa...”e a menina passava palpitante conforme fosse o emitente daquele elogio. Um simples olhar de respeito era lançado, pois as garotas não davam mole e sabiam da necessidade de se valorizarem.“Um dia gatinha manhosa eu prendo você, no meu coração”... Na volta do colégio, uniforme azul e branco impecável (as normalistas eram admiradas e cobiçadas ) esbanjando elegância e frescor de mocidade, mesmo apressada e carregada de livros a garota captava a sonoridade do divertido apelo:“Eu queria ser o seu caderninho, pra poder ficar juntinho de você...” E rolava a beleza, a candura e a graça.

Contava uma colega que na calçada de sua rua havia um pequeno sobrado, com porão rente à calçada de onde ouvia sempre uma melodia quando por ali passava. Esgueirava o olhar e percebia que o canto vinha de um senhor ( não um rapazinho) dirigido-se, possivelmente, a ela e com olhos baixos batia e pregava solas nos sapatos com os quais trabalhava. Ninguém olhava para ninguém, só a poesia da música sempre :”A deusa da minha rua/ Tem uns olhos onde a lua / Costuma se embriagar... a moça seguia séria, sem conhecer a melodia, fingindo indiferença . Só muito mais tarde conhecendo a canção descobriu emocionada o cabedal de beleza contido naqueles versos.

Com o tempo as canções mudam e os poetas tentam dizer as mesmas coisas. Atualmente, não se reconhece nelas o romantismo de outros tempos e perguntamos se será necessário, ainda, “cantar” as meninas? Claro, elas serão sempre “cantadas”, mas que sejam poupadas do palavrório chulo que compõe nossas músicas: “vai poposuda, vai mexendo o poposão, vou te pegar, o tigrão vai te pegar, vai lacraia, vai lacraia, são as cachorras...” como temos visto. Mocinhas! Se me permitem, com todo o respeito, melhor que ouçam mas não dêem ouvidos . Valorizem sempre as composições de nossos bons autores. Não deem mole para a mediocridade que rola na música e na dança. Saibam que a maneira de se trajar e dançar leva ao respeito e à consideração. Se for comum hoje exaltarem as “cachorras preparadas”, mas se vocês não se vestem e nem se comportam como tal, certamente, serão respeitadas. Hei, mulheres, o respeito é bom e enobrece.

Vivi tempos de gatinha manhosa, deusa da rua, caderninho, garota que passa com graça, como muitas viveram e, hoje, reacendo minhas boas recordações com a poesia inigualável, sem par, que Chico Buarque faz exaltando a menina que passa: “Passas em exposição/ Passas sem ver teu vigia/ Catando a poesia/ Que entornas no chão.”

E, aí, meninas, vamos entornar poesia e ouvir respeito como merecemos? Recordando aquela fase romântica e pura por que passamos, com muito carinho torço por você - Menina de Hoje, Mulher do Amanhã.

Evane
Enviado por Evane em 17/06/2009
Código do texto: T1653378
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