As lembranças de Irani

Edson Gonçalves Ferreira

     Desde pequeno, ouvia histórias da minha família. Do lado paterno, eu as ouvia da Tia Henriqueta, minha tia-avó que morreu com 106 anos e nasceu em Vila Nova de Gaia, em Portugal e, depois, a Tia Eulina que ajudou a criar meu pai, uma vez que minha avó paterna, Dona Leopoldina Ferreira, morreu cedo, deixando meu pai criança. Agora, do lado materno, quem contava as histórias era meu vovô português Manoel Gonçalves que, infelizmente, morreu quando eu tinha 08 anos e, depois, a Tia Criola (Celina Gonçalves Assis) continuou as histórias que, em seguida, passaram a serem contadas por sua filha, minha prima Irani Assis Silva que, hoje, está com Alzeimeir.
     Elas contavam que vovô Manoel, quando minha mãe e minhas tias Criola, Bebê e Dado eram vivos, possuía uma casa na Avenida Getúlio Vargas, perto da casa do Tio José e da Tia Quita Gonçalves Manata. Ali, naquele trecho, abaixo da Rua Pernambuco, ainda moram muitos familiares meus com os sobrenomes Araújo, Carregal, Rabelo, etc. A casa de que eu falava, tinha um pomar fantástico como laranjas, mangas, marmelos, vinha. E vovô Manoel gostava de tudo limpinho. Assim, minhas tias e minha mãe (que era a caçula), varriam o quintal várias vezes durante o dia.






Edson e sua prima Isabel Gomes Silvestre, em Manhouce - A família se reencontra

     Vovô – contavam-me elas – contava quantas frutas tinham no pé e viajava, com os sagazes, a vinha. Ai de quem colhesse um cacho de uva verde. As uvas eram uma relíquia. Trouxera a muda da vinha da família, lá de Manhouce, São Pedro do Sul, distrito de Viseu. Assim, quando elas ficaram moças e tinham seus pretendentes, para agradar algum, “roubava” algumas frutas para oferecer ao amado. Era um Deus nos acuda quando Vovô Manoel descobria. Ele não era pão-duro, apenas queria que as frutas fossem colhidas no tempo certo.
     O que eu sempre achei engraçado é que ele viajava os pés como um cachorrinho policial. Se via alguma folha no chão, depois do terreiro varrido, desconfiava e perguntava para as raparigas quem tinha mexido nos pés. Eu tive a alegria de conhecer Vovô Manoel que chegou ao Brasil com 12 anos e aqui estudou e tornou-se um ferroviário exemplar. Quando ele recebia seu salário, reunia os netos para nos dar um dinheiro para comprar bolinhas de gude. Todas as tardes, ele se encontrava com seu irmão José, na escadaria do Santuário e, então, ele me levava no colo e eu ficava ali, apaixonado, escutando a conversa do vovô com o tio José. A história não acabou, aguardem o próximo capítulo. Todas serão repassadas de ternura. A próxima terá o título “O lenço”. Aguardem...

Divinópolis, 20.06.09
edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 20/06/2009
Reeditado em 13/09/2009
Código do texto: T1658792
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