A escada e o menino

Edson Gonçalves Ferreira

Desde pequeno, volto a afirmar, gostava de livros. "Roubava" livros das minhas tias para ler escondido. Isso desde os cinco anos de idade. Quando eu entrava na casa dos meuis tios e tias, eles já sabiam que eu chegava com sede de leitura. Aí, então, ficavam de olho -- porque achavam graça -- naquele garoto que enfiava livros na cuequinha para ler depois.

Foi assim que aconteceu também a minha descoberta de como nascem os nenens. Não acreditava nadica naquele história de cegonha e de avião. Já era coroinha e os padres falavam meias verdades naqueles tempos e não todas. Assim, um belo dia, descobri que minha mãe estava lendo "A vida sexual dos solteiros e casados" que, pelo que me parece, é de autoria do Padre João Mohana. Nem sei se escreve assim o nome dele.

Fiquei curioso. Procurei descobrir onde ela escondia o livro e vi que era em cima do guarda-roupa. Eu era pequenino e não alcançava e, assim, esperei um dia que ela foi para o quintal lavar roupa. Corri para o quarto, abri as cinco gavetas do quarda-roupa em pedaços diferentes, formando uma escada e, sem medo, subi. Apanhei o livro e comecei a leitura, escondido debaixo da cama.

Sei que vocês, adultos, devem estar se perguntando se eu entendia tudo. Claro que não, bobos, mas aquelas coisinhas básicas sim. Descobri até o método contraceptivo que ela usava, porque queria só seis filhos como os teve. Todos os dias, quando havia oportunidade, eu fazia a mesma arte.

Não, não precisam perguntam, não cheguei a terminar de ler o livro naquela época. Mamãe era esperta para danar e, então, um dia, fingiu que ia descer para o quintal e, depois, apanhou-me debaixo da cama com o livro na mão. Até hoje, ainda sinto as palmadas dela na bundinha do menino sequioso de conhecimento, porque maldade não havia naquela criança. Sim, um dia, enquanto jantávamos, virei pro meu pai e disse: _ Vocês vão me dar muitos irmãozinhos e não será a cegonha que vai trazer, mas a parteira! Meus pais só riram e nada falaram com a boca, mas os olhos brilharam, porque, com certeza, sabiam que ali estava um leitor nato!

Divinópolis, 23.06.09

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 23/06/2009
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