A diversidade, o medo e a hipocrisia
Joinville é palco, até domingo, da semana da diversidade. Já se pode imaginar as reações da comunidade conservadora; o fim do mundo seria mais aceitável do que essa “sem-vergonhice exposta como se fosse natural”. Teatro, cinema, debate, palestras são partes da programação, que encerra com uma passeata ou parada, como queiram.
Se não fosse trágico, seria de morrer de rir com certas reações que vão do repúdio absoluto à interpretação maldosa do que é dito. Um padre homossexual fez uma palestra e, claro, ridicularizou o preconceito. Como padre, disse que Deus criou as pessoas à sua imagem e semelhança. Pronto, setores da mídia e até um vereador, abusando da inteligência de quem o elegeu, caíram de pau (epa!), afirmando que ele havia dito que Deus é gay. Sinceramente, não sei se isso é apenas ignorância ou se é jogar para a torcida hipócrita, que dá audiência e votos.
A questão da homossexualidade é complexa, sem dúvida, mas apenas por causa de outra questão que não tem cura: o preconceito idiota. Falar em opção sexual, para mim, não faz sentido. Nasci homem e cresci heterossexual e me sinto muito bem assim. Isso não foi uma opção, mas uma condição, igual a minha cor de pele etc. Sei que parece meio simplista, mas bem menos do que achar que em qualquer momento da vida a pessoa acorda, se olha no espelho e diz: “De hoje em diante opto por ser homossexual”. Para alguns, parece que é assim, sempre acompanhado do julgamento: “É sem-vergonhice, mesmo”. Num mundo que gosta de condenar, discriminar e até agredir fisicamente, alguém seria louco o suficiente para optar ser alvo disso e muito mais? A única opção existente é a de assumir ou não. Assumindo, pode ignorar o preconceito ou lutar contra ele. E muitos homossexuais estão lutando. Ponto para eles.
Diversidade não é pecado, ignorância preconceituosa é.
Afinal, qual é o medo? Choca? Quanta coisa choca de verdade e fingimos não ver? Vai contra a lei divina? Que lei? Aquela de um povo que se escolheu como escolhido, que milhares de anos depois ainda trava guerras expansionistas e que precisava de gente para povoar a “terra prometida”? Que tal respeitarmos as pessoas que pensam? Ou o medo é outro e que não ousa ser confessado?