NOS TEMPOS DA DITADURA

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O Cronista Sérgio Porto, Codinome ¹Stanislaw Ponte Preta, em seu Febeapá 1, Primeiro Festival de Besteira que Assola o País, 1996, coletou, entre os anos de 1995 e 1996, uma série de casos que faziam jus ao título de sua obra. São casos colhidos pela agência informativa de Stanislaw Ponte Preta a "Pretapress", que dizia ele ser a maior do mundo, porque nela colaboravam todos os seus leito­res. Desse festival de besteiras resumi alguns casos que, com licença do mestre Sérgio Porto, quero compartilhar com vocês.

Ano de 65:

   Em Belo Horizonte, um delegado de polícia distribuía espiões pelas arquibancadas dos estádios porque "da­qui para frente quem disser mais de três palavrões, tor­cendo pelo seu clube, vai preso".

   Em Mariana (MG) outro delegado baixou portaria dizendo que moça só poderia ir ao cinema com atestado dos pais.

   O Secretário de Segurança de Minas Gerais proibia (já que fevereiro ia entrar) que mulher se apresentasse com pernas de fora em bailes carnavalescos "para impedir que apareçam fan­tasias que ofendam as Forças Armadas". Como se perna de mulher alguma vez na vida tivesse ofendido as armas de alguém!

   Já era fevereiro quando o diretor de Suprimento, em Brasília, proibia a venda de vodca "para combater o co­munismo"

   No nordeste de Minas a cidade de Itaboim, que fica à beira da estrada Rio - Bahia, viria para o noticiário depois que o prefeito local plantou lindas e tenras palmeiras para enfeitar a estrada, e a Oposição — com inveja — soltou 100 cabritos de madrugada, que jantaram as palmeiras.

   Eram instituídos mais dois dias: o "Dia do Pobre" e o "Dia da Vovó". O primeiro por projeto do deputado Ge­raldo Ferraz e até hoje o pobre ainda não viu o dia dele; o segundo inventado por uma radialista "porque existem tantos dias e ninguém ainda se lembrou da avozinha". A distinta não reparou que existe o "Dia das Mães" e que — jamais em tempo algum — mulher nenhuma conseguiu ser avó sem ser mãe antes.

   Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica "Electra", tendo comparecido ao lo­cal alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 a.C.

   Num dos clubes mais elegantes de Belo Horizonte, realizou-se a festa para a escolha da "Glamour Girl de 1965". A eleita, sob aplausos gerais, foi devidamente cercada e enfaixada. Na fai­xa, lia-se: "Glamour GIR de 65". Levando-se em conta que Gir é uma raça de gado, foi chato.

   Julho começava com a adesão do Banco Central à burrice vigente, baixando uma circular, relativa ao regis­tro de pessoas físicas, na qual explicava: "Os parentes consangüíneos de um dos cônjuges são parentes por afinida­de do outro; os parentes por afinidade de um dos cônju­ges não são parentes do outro cônjuge; são também pa­rentes por afinidade da pessoa, além dos parentes consangüíneos de seu cônjuge, os cônjuges de seus próprios parentes consangüíneos".

   O prefeito Tassara Moreira, de Friburgo (RJ) inaugurava um bordel na cidade "para incentivar o turismo".

   Em Campos ocorria um fato espantoso: a Associação Comercial da cidade organizou um júri simbólico de Adolf Hitler, sob o patrocínio do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Ao final do jul­gamento Hitler foi absolvido.

   No dia 17 de agosto de 65, o deputado Eurico de Oliveira apresenta­va à Câmara um projeto para a importação de um milhão de portugueses para espalhar pela selva amazônica.

   Na cidade de Mantena (MG) o delegado deu tanto tiro que a cidade deixou de ter população e passou a ter sobrevivente.

   O Coronel Bermudes, secretário da segurança gaúcha, acusava todo o elen­co do Teatro Leopoldina de debochado e exigia a presen­ça dos atores e do autor da peça em seu gabinete. Depois ficou muito decepcionado, porque Georges Feydeau — o autor - desobedeceu a sua ordem por motivo de força mai­or, isto é, faleceu em Paris, em 1921.

Ano 66:

   O comandante da Base Aérea de Curitiba proibia o Padre Euvaldo de Andrade de rezar missa em ritmo de iê-iê-iê. Recorde-se que foi naquela Base que o piedoso sacerdote rezou pela primeira vez uma missa com música dos Beatles no Evangelho, bolero de Vanderlei Cardoso na Comunhão, e uma versão de "Quero que tudo mais vá pro inferno" ao final do ato religioso.

   E julho começava com uma declaração muito bacaninha da Deputada espiroqueta Conceição da Costa Ne­ves, que afirmava nos bastidores da Assembléia Legislati­va de São Paulo: "A ARENA, se quiser, pode cassar o meu mandato e fazer dele supositório para quem estiver preci­sando".

   Setembro começava com uma determinação de um governador, criando um novo ór­gão que tinha a sigla: SIRCFFSTETT. Ou seja, Setor de Investigações e Repressão ao Crime de Furtos de Fios de Serviços de Transmissões Elétricas, Telegráficas ou Tele­fônicas. Deve ser de lascar o cara trabalhar lá, atender ao telefone e ter que dizer: "Aqui é da SIRCFFSTETT".

O festival persistiu, mas vou interromper por aqui com este comunicado que a Pretapress recebeu do Serviço de Trânsito explicando que os talões de multa para motoristas infratores teriam agora três vias, para evitar o suborno do guarda. Em todo lugar do mundo, quando o guarda é subornável, muda-se o guarda. Aqui se muda o talão. ®Sérgio.

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1 - Ponte Preta, Stanislaw, 1923-1968, FEBEAPÁ 1: Primeiro Festival de Besteira Que Assola o País — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Se você encontrar omissões e erros (inclusive de português), relate-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 26/06/2009
Reeditado em 03/06/2013
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