O QUE LEVA O HOMEM A CHORAR

Sou da terra em que os homens têm vergonha de chorar. Engolem o choro, lavam a cara, escondem os olhos! Aqui não; chora-se por qualquer ninharia e deixa-se transparecer os motivos. Quando saí de casa, minha mãe me disse: “ O filho de fulano ao sair de casa chorou e nunca mais aqui voltou; veja se não toma isso como exemplo!" Na na verdade, nenhum desejo me atrai voltar, não pelos pingos de saudade que lá deixei, mas, pela vontade que tenho de antes, dar um bordejo pelas paragens que não conheço.Portanto, não culpo o choro pela delongada demora. – O ato de chorar é o mais triste de todos: sente-se algo fora do comum! Uma crucial necessidade de expandir a dor através dos soluços incontidos no semblante deformado, descarregando a pressão dos vasos, impedindo o funcionamento normal da bomba que aciona o sangue e sustenta o corpo em pé. Estão fora de análise as causas que levam o homem a chorar. A engrenagem que provoca o choro é igual, e no momento exato, torna-se difícil reter as lágrimas. – A perda de um ente querido é insociável e detestável, não sobrando tranquilidade para manter o psiquismo em forma – condição única para controlar as outras partes.

O choque físico deixa manchas que o tempo apaga; o choque psíquico acumula resíduos que proliferam na mente, atrofiam o poder associativo insuperável, trazendo consequências desastrosas.

O choro faz desabar as mágoas transbordantes de soluços; relaxando, acalmando os nervos e a imaginação, ainda, que por pouco espaço de tempo."O choro é tão ruim, quanto a vontade de vomitar." Ao vômito, sente-se as paredes do estômago desprenderem-se e um cheiro de morte por perto. Somente o choro alegre, não contorce tanto, pois este descarrega uma carga de emoções momentâneas. – O choro de uma criança não tem significado consciente: é choro renitente, sem comoção verdadeira: não deixa marca, mas está para a dependência das causas que proporcionaram seu desenvolvimento. Muitas vezes, pelo menos, uma parte do potencial emotivo é herança do

condicionamentos da infância e do choro interrompido em contradição com os fatos reais observados e postos à análise dentro do cérebro, acumulados ali, mais adiante pesando como barril de chumbo, chorados como cebolas que atingem os olhos, para não se sentirem lavadas ou fervidas. – Não tenho a mínima ideia de quando o choro é injusto: Chora-se a falta de alguém; a presença, a distância, o desespero, a separação, a desesperança, a desilusão... chora-se encarnando um personagem, quando se quer, quando não se quer! É um ato verdadeiramente, impiedoso; contido ou não; olvidado ou não; a verdade é que se deve estimular o choro.

Quando um adulto chora, grande dor está sendo extravasada; é como se o sangue jorrasse pelos olhos. É diferente do choro de uma criança querendo alcançar o bico do peito materno. É bem diferente... a dor chega ao mais alto grau e para não estourar o coração, as lágrimas correm anestesiando os nervos; introduzindo o corpo numa fase de descontração, em dado momento, benéfica: "esquecer tudo instantaneamente."

-O homem moderno, esclarecido não foge ao romantismo

de “Shumann”, de “Chopin”ou até mesmo ao de “Ricardo Coração de Leão”, dos Trovadores ambulantes ou ao romantismo das óperas de “Luly”ou “Puccini”. –

Jesus chorou ao encarar a verdade daqueles seus perseguidores transformados em traidores, que o entregaram aos corruptos interesseiros da época.

A maioria dos poetas já cantaram em versos, o choro estampado nos olhos das estátuas nas praças e dos heróis da escravatura. As lágrimas dos viandantes do cotidiano, constroem a sua sobrevivência- "todos temos acesso ao banco dos chorões," onde depositamos lágrimas a prazo fixo, à maneira das caderneta de poupança. Quem contestar essa verdade, inscreva-se na Associação dos Empregados da Renda Pública, em cujos balcões as lágrimas rolam como ondas que articulam cachoeiras. Escuta-se: lamentos, roncos, soluços transformados no suor que os homens da lei sugam, deixando o corpo enfraquecido e desidratado. Sem dúvida, eles terão também o seu dia de choro. O choro dá férias mas não despede." É um ato natural, para o qual, a Natureza dotou o homem."

Zecar
Enviado por Zecar em 13/05/2005
Reeditado em 01/07/2016
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