EDUCAR E ENSINAR: A DIFÍCIL MISSÃO

“Educar não é ensinar respostas. Educar é ensinar a pensar." (Rubem Alves)

Assistindo, na semana passada, ao lançamento do projeto Gestar II – para professores de Língua Portuguesa e Matemática – Fundamental maior (6º ao 9º anos), deparei-me, num dos vídeos apresentados, com a frase acima, do educador Rubem Alves.

Depois dessa frase, a minha cabeça ficou martelando sobre o verdadeiro significado dela. Revi, passo a passo, a minha trajetória de educador e procurei fazer uma analogia entre a citação do mestre e o que eu sempre procurei repassar para os meus alunos.

Percebi que o educador é, antes de tudo, um abnegado, porém ele não tem um vírus que possa introduzir no seu pupilo e, através dele, dar-lhe a sabedoria. Mas ele tem o dom – aí sim – de reconhecer em seu aluno, o seu conhecimento informal – aquele esquecido por uma boa parcela de professores, na porta de entrada da escola, e que se encontra catalogado, em qualquer dicionário pedagógico, como conhecimento de mundo –, e transformá-lo em conceitos que possam ser aproveitados de forma sistemática, despertando-o para suas potencialidades inatas e que o ajudem a encontrar, entre suas verdades, as melhores opções para a sua formação.

Entretanto, sempre nos enganamos com o sentido das palavras, dentre elas, ensinar e educar. De certa maneira, não é fácil conseguir distinguir uma da outra, pois a interpretação nem sempre é clara. Ensinar, para a maioria leiga, é a relação professor-aluno, onde um está a ensinar ao outro os conteúdos programáticos, os saberes temáticos, as teorias, a ler, a fazer contas; enfim, nunca nos damos conta que essa relação é apenas uma, entre tantas outras, para o processo de introduzir o jovem no universo da futura aprendizagem escolar.

Todavia, sempre nos esquecemos que existem outros tipos de ensinar tão importantes quanto o ensinar institucional: o pai ensina ao seu filho – antes mesmo dele pôr os pés na sala de aula; a mãe ensina os primeiros passos – assim como, ensina-o a se defender. Ele aprende sozinho através da observação da realidade à sua volta; os meios de comunicação o ensinam – apesar de nem sempre ser o método correto; os vizinhos, os amigos e, acima de tudo, como somos frutos do meio em que vivemos (essa é a minha visão pessoal), ensinamos e aprendemos o certo e o errado, dependendo de onde e como o praticamos.

Educar, no entanto, é diferente de ensinar. Educamos quando introduzimos nosso educando no universo em que ele possa desenvolver suas faculdades físicas, morais e intelectuais. Contudo, isso nem sempre se traduz numa prática saudável. Vai depender de como utilizamos a metodologia. E, assim como o ensinar, a primeira imagem que vem à nossa mente sobre educar é o método de nossos avós: respeito aos mais velhos, sermos comportados, aprender através do sacrifício do castigo (caroços de milho ou feijão – e a criança ajoelhada em cima – era uma técnica usada; a palmatória era outra), e não a essência filosófica do saber e das virtudes morais. Essa, sim, é a verdadeira raiz de educar: é fazer pensar.

Por isso, quando eu vejo a ganância financeira ditar as regras educacionais, encaminhando nossos jovens para um futuro obscuro, sem planificação – apenas contemplando o futuro imediato de um ensino médio decorativo (a velha prática baseada na publicidade para ampliar o número de alunos que passam nos vestibulares) -, eu percebo, claramente, a enorme diferença que existe entre ser educador (aquele que é comprometido em buscar no novo a resposta para o conhecimento interativo, participativo, construído em base sólida, duradoura, para evoluir, no ser humano, a sua consciência cada vez mais complexa – cuidar da mente e do corpo, mas, principalmente, para que se faça bom uso desses conhecimentos), ser professor (comprometido apenas com o conhecimento e o conteúdo) e, ainda, o professor por acaso ou por falta de opção (aquele que está ali apenas fazendo um "bico" para ajudar a pagar a sua faculdade, não tendo compromisso com a instituição onde exerce a profissão e, muito menos, criando vínculo com seus pupilos, se utilizando de técnicas que se configuram como sendo decorativas, de quadro e giz, livros prontos e provas objetivas – na maioria das vezes, nem mesmo as avaliações são pesquisadas e escolhidas e aplicadas por ele mesmo) e chego à seguinte conclusão: ser educador é, antes de tudo, ensinar a ver o que tem dentro de cada um dos seus educandos e, ao mesmo tempo, aprender com esses mesmos educandos, as inovações do seu tempo e, com essas absorções, evoluir em conhecimento.




Obs. Imagem da internet (Escola de Atenas)

 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 28/06/2009
Reeditado em 06/12/2011
Código do texto: T1671325
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