A RODA DOS EXPOSTOS

Roda da Santa Casa de SP oficializou abandono anônimo de bebês até 1950.

SÃO PAULO.

A oficialização do abandono de recém-nascidos, sugerida pelo Instituto Brasileiro de Defesa da Família, não é uma figura nova no Brasil.

Criada pela Igreja Católica no século XII, ela existiu no país até 1950, quando foi fechada a"roda dos expostos" na Santa Casa de São Paulo.

A roda funcionou em várias santas casas do país, mas foi a da Rua Veridiana, na Vila Buarque, a última a ser desativada.

Tratava-se de um cilindro oco de madeira, com abertura de um único lado.

O recém-nascido era levado pela mãe ou por alguém e ali depositado. A pessoa tocava um sino e as freiras vinham pegar a criança, sem qualquer contato com quem a deixou.

Inaugurada em 1825 por Lucas Antonio Monteiro de Barros, o Visconde de Congonhas do Campo, provedor da Santa Casa e primeiro a governar São Paulo na condição de senador do império, a roda recebeu em seus 125 anos 5.696 crianças.

Todas eram resgatadas, medicadas e encaminhadas ao educandário Asilo Sampaio Viana, no Pacaembu.

A média anual: 45 bebês abandonados.

- Algumas eram adotadas por famílias, outras só saiam de lá para casar - conta Nazareth Barros de Andrade, responsável pelo museu da Santa Casa, onde a roda, recuperada, está exposta.

As crianças deixadas na Roda eram recolhidas pelas Irmãs de Caridade da Casa. Criou-se um corpo de escravas que vendiam à Santa Casa o excesso de leite materno, salvando assim milhares de vidas inocentes.

As amas de leite recebiam um salário, pago diretamente aos seus senhores. A partir de 1886 o pagamento passou a ser feito diretamente às escravas, desagradando aos escravocratas.

O médico Denis Moraes Ferrari, obstetra e especializado em pré-natal da família, afirma que a idéia do anonimato não passa de uma figura de linguagem e abstração. Para ele, é preciso fazer valer a gravidez responsável do casal.

- Todos os humanos são responsáveis por uma criança nova que vem ao mundo, mas a responsabilidade é colocada para um casal. O casal tem que responder pelo ato que pratica, não pode ficar incólume, nem anônimo. Cada criança, mesmo de proveta, tem no mínimo uma mãe certa. Não tem essa história de ser anônimo, é figura de linguagem. Esta pessoa tem que responder por esta criança que trás ao mundo e pela educação que dá a ela, pela humanização – afirma.

Muitas histórias estão contadas em bilhetes, fotos cortadas pela metade ou mesmo roupinhas de recém-nascidos expostos na Santa Casa.

Certa feita estavam as irmãs de caridade orando, quando ouviram o sino da roda tocar. Imediatamente correram todas para lá e ao girarem a roda, se depararam com uma linda menina – visto depois – enrolada em finíssimos panos de linho e ricamente bordados a mão.

Quando descobriram a criança das vestes, viram uma parte de fotografia, onde se destacava o busto de uma mulher em ricas vestes.

A mãe da criança devia ser de família abastada, visto as roupas da criança.

E com certeza, a parte de cima da foto, com o rosto da mulher – a mãe da criança – tenha ficado com ela mesma, para que, se um dia se reencontrassem, as partes seriam juntadas.

Assim, finalmente mãe e filha seriam unidas, o que não sabemos se de fato aconteceu.

Façam uma visita à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e conheçam de perto a famosa roda dos expostos, capítulo dramático da nossa história.

Dia 22 de agosto - Dia do Escritor Louveirense.

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 28/06/2009
Código do texto: T1672462
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.