Neurótico é você, eu não

Fico muito chateado quando alguém insinua que sou neurótico. Quando alguém acha que sou um tipo exótico, excêntrico, esdrúxulo, escalafobético, estrambótico, tão esquisito quanto essas palavras. Fique sabendo que sou completamente sadio, quem é neurótico é você e o resto do mundo. Eu não tenho nada, não tenho problema algum, nunca tive e nunca terei. EU NÃO SOU NEURÓTICO! Quantas vezes eu preciso gritar para você me acreditar?

Quando comecei a estudar psicanálise era recém casado, foi ai que descobri que todo mundo era neurótico, menos eu e minha linda esposa. Hoje, mudei de opinião. Aqui para nós...deixe-me dizer ao seu ouvido: eu acho que ela tem alguns problemas. Outro dia, acredite, estávamos caminhando por uma calçada que tinha umas faixas. O que vou dizer agora é muito forte, mas creia, é a verdade. Não queria expor minha mulher assim, mas...fazer o quê? Preciso de uma pausa para eu fechar meus olhos e respirar fundo...lá vai: Ela caminhava pisando nas faixas. Pronto! Eu disse. Gente, ela ao invés de saltar, como eu faço, pisava mesmo naquelas marcas no chão. Que loucura! Que neurose braba. Por favor, não contem para ninguém. Obrigado.

Por que você se importa se eu lavo as mãos umas duzentinhas vezes mais que você? Ora que bobagem! Só porque eu confiro todas as portas e janelas quinhentas vezes por noite você quer me indicar um psiquiatra. Fala sério! Isso todo mundo faz. Certo que um pouco menos de vezes, mas só um pouco. OU SERÁ QUE É PORQUE EU GRITO MUITO? Escuta aqui, eu não sou “pavio curto”. Entendeu? Fui claro?

Neurótico mesmo é aquele tipo esquisito que fala coisa que ninguém entende, que grampeia na elevação da superficialidade mórbida que, por sua vez, é inconseqüente e ao mesmo tempo benéfica no dia a dia da sociedade hodierna.

Ora, tem gente que não anda sozinho de elevador. Esse sim é um neurótico. Particularmente prefiro nem sair de casa. Nunca. Elevador...ora elevador. Elevador? Mãnhêêêê! Eu quero a minha mãe!

Neurótico eu? Neurótico é você, o marido da sua mãe, a mulher do seu pai, seus irmãos, seus filhos, sua empregada, meu psiquiatra.

– Mãe cadê meu remédio, depressa!