O inferno das idéias

Uma idéia se vai. Sem pedir permissão, saiu-me à cabeça. Não foi ruim; era, pois, uma idéia triste. Daquelas que não se quer ter, mas se tem. Sentia-me mal. De repente, isso se foi. Como disse, a idéia fugiu. Parado em minha varanda, coloco-me a pensar: Quantas dessas - idéias melindrosas! - não se vão ao espaço? Muitas, é certo. O peso da gravidade, entretanto, não as deixa subir; carrega-as, pois, ao chão. Perguntar-se-á: no chão permanecem? Creio que, por serem idéias, do chão elas passam, e vão aquém. Ao analisar, ainda, que essas idéias se formam - inúmeras - continuamente, pensava haver inúmeras aflições um pouco abaixo de nós. E talvez realmente exista. Será esse o inferno que tantos dizem existir? É possível. Um conluio de idéias cheias de remorsos... Dentro desse inferno, não consigo imaginar-me fora. Custa-me escapar-lhe, enquanto posso...