Uma família de saudade

O tempo passa, passa e sempre vemos ou notamos uma saudade quando algo nos vem à lembrança, quando achamos algo que é a cara daquela pessoa... Por exemplo: uma música, um lugar que ela ou ele gostava, um costume, até mesmo um cantinho da casa é motivo para uma saudade e nesse momento uma lágrima no canto começa a cair.

Lembrar de um ente querido é voltar no passado e rebuscar as coisas boas, ou o legado de sonhos que agente tenta mostrar. Entendo que toda família é por demais fiel aos seus entes que partiram e que defendem um pensamento, uma tese que carrega à posteridade que é zelar pelo nome e resguardar da melhor maneira sua imagem em vida.

Eu como parte de uma família tenho também a minha saudade e como todos, tenho os meus entes queridos para lembrar, para sentir saudade, às vezes sofrer e sentir aquele aperto no peito que é singular de cada um, cada pessoa lembra à sua maneira, sofre do seu jeito... Mas a verdade é que todos nós nunca queremos esse tal de “todos nós vamos passar por isso” uma utopia que concordamos mas não aceitamos, como disse, é singular de cada um.

Começo nesse escrito falando que o tempo passa, passa e a saudade chega! E nesse momento me veio uma saudade da minha vovó Elvira, aquela “mãozinha” que tantas vezes beijei, que tantas vezes me acenou com carinho e amor. A vovó da vila Holanda que tantas confraternizações foram feitas em sua homenagem...Suas filhas organizavam as reuniões para mais parabéns e carinhos que a cada ano mais e mais era motivo de prazer para cada uma de suas filhas, genros, netos e todos que a admiravam. A vovó com sua maneira tão autêntica e simples carregou e deixou para todos a honradez e humildade que hoje é peculiar de quem viveu ao seu lado, eu precisaria de um livro para dedicar para cada um de nossos que partiram! Ô saudade!

Também na casinha da vila Holanda me chega uma saudosa lembrança. Eu ainda criança com meus dez ,doze anos, recordo com clareza do meu tio Raimundo. Doce pessoa, solteirão que tinha como sua melhor amiga a “pretinha” que era a sua graúna. Aliás tenho um poema que fala da graúna...Confesso que não é da pretinha que me refiro. Sim, quando chegamos de Natal-RN ficamos na casinha da vovó e como sempre a criançada fazia a festa. E vovó, e todos nos receberam com aquele amor. E a graúna era a personagem da casa, pois todos a admiravam e era a marca principal: Seu canto ao amanhecer. Acho que todos concordam comigo: Uma graúna por essas gaiolas da vida sempre será um motivo para relembrar nosso querido tio Raimundo.

Também nesse contexto meu pai inserido como mais uma saudade nesse tema tão complexo e surpreendente. Ele também deixa uma lembrança que se renova a cada música do Agnaldo Timóteo...Como falei, lembra? De cada motivo que nos faz lembrar, meu pai nos chega à mente com esse cantor, a música dele que para sempre vai ficar em nosso coração. Papai que tão cedo e tão novo nos deixou. Com sua partida em 89 ficamos aqui apenas revivendo a lembrança sabendo da certeza que para sempre não ouviremos aquela voz forte e grave de tantas vezes “no pé da rede” disparava me acordando para trabalhar. Mais uma vez meu pai, Adeus... E como deixei no “Santinho” que fizemos...E a vida continua!

Como o tempo passa rápido, como a vida nos surpreende a cada dia, como o mundo em suas voltas tão misteriosas nos proporciona emoções que às vezes nem acreditamos. Acabei de falar de nosso querido pai e recordando o seu tempo de internamento, foi numa dessas visitas que ele me pediu para levar ao hospital seu grande amigo “Chico” o Francisco da nossa inesquecível tia Eleany. E nesse clima de lembrança e saudade me chega como num filme, o tempo que passei em sua casa logo após meu transplante. Fiquei vários dias em sua casa. Lá eu senti o grande prazer de conviver em amizade, em harmonia e vi a doçura de mãe que não parava e nem deixava de falar sobre os filhos... Era um amor sem igual que só demonstrava carinho mesmo quando um espinho às vezes a machucava. Quanta saudade da nossa titia Eleany! Agora coloco-me nesse instante em pensamento como parte daquele lar da Catarina Labouré ( não sei se está certo o nome da rua) do grande Monte Castelo que dos anos e anos de cada reforma da casa, tudo que cada um sabe em cada coisa que a faz relembrar. E fazendo parte dessa lembrança o carinho especial de um amor de pessoa que também fez parte desse lar e era tão querida... A tia Pureza e tão pura quanto o nome foi fazer morada no céu deixando uma grande lacuna naquela casa de doces lembranças. E como disse, tudo nos faz lembrar e às vezes chorar! E o lugar da rede, o cantinho do fogão, ou o melhor lugar de estender a roupa, são pequenas coisas, pequenos detalhes que com certeza os seus enfim sentem essa surpreendente emoção retratando tantas lembranças da nossa querida titia Eleany que era a mais velha da nossa dona Elvira.

E nessa família de grandes e bondosas pessoas que se ramificam aqui e ali em um dia de um passado de certo modo distante eu ouvi essa frase: essa é prima de sua mamãe e ela é a filha da prima da vovó...

Sabe esse diálogo, ou essa frase foi exatamente na casa da nossa tia Eleany, em que chegou num belo domingo todos do tio Alírio. Lembro-me da fisionomia calma, serena e bem simples daquela família que anos mais tarde viria a me dar emprego e acolhida. A prima da mamãe era exatamente a nossa querida tia Lourdinha ou Lurdinha, pessoa simples e dedicada aos filhos e a uma vida de luta e amor, principalmente ao amor pela sua linda flor chamada Dora... E a filha da prima da vovó era a própria Dora, aquela flor que era a beleza da casa, a razão da família que à época era só prosperidade e Dora, uma menina linda e de grande futuro e orgulho de todos.

Pois bem, tio Alírio fez morada com o Pai deixando a lembrança e saudade que seus filhos, que hoje e sempre guardarão como um legado de trabalho e ensinamento que com certeza foi a melhor herança. Como disse, singular de cada um. E como o tempo não para já depois que me fiz mais presente nessa ramificação da família, é que eu já trabalhava na empresa da família. Num sinistro dia os funcionários começavam a chegar e já se notava no ar um clima de mistério e pouco tempo a notícia mais triste chegou: padeceu naquele dia a alegria da fábrica e da família, Dora morreu e um mar de saudade e tristeza já era uma constante nos olhares. Que dia triste! Que crueldade para todos e principalmente para a saudosa tia Lourdes!! E com o tal vazio a tia foi como a vegetar num deserto sem a sua querida flor e pouco a pouco foi se aproximando o dia de encontrá-la. Já debilitada e triste ela também fez o caminho do céu e hoje já estão juntos o pai a mãe e a querida filha que eternamente serão e estarão sempre vivos em nossa lembrança.

E de lembranças são muitas as vezes de quem até mesmo não conhecemos mas sabemos que é carne da carne de nosso irmão, tio, como tio Ruy que não vivi ao seu lado, porém sei da dor de minha tia, de meus primos que são seus sobrinhos e nisso uma grande saudade é parte de uma grande lembrança! saber que, aquela pessoa que amamos e subitamente não veremos nunca mais...É uma flexa no peito de um coração já ferido!! Um carinho, um ente querido como pai, pai! Ah! O pai de minhas queridas primas:Leucy e Cyleu que também já nos deixou: Seu Galileu que com certeza sempre virá uma lembrança... Quadros lindos com certeza serão pintados no céu! E virão mais recordações. Mãe, filho, cunhado, sogro... Meu sogro! Que dos anos de amizade e companhia com sua simplicidade e carinho me mostrou muito com sua experiência de vida, Sr: José Silva de Sousa que também nos deixou e foi encontrar no céu seu e nosso querido João Paulo, aquele adolescente que era como um filho da família e prematuramente foi deixando uma grande saudade. No meu casamento era apenas um menino, hoje ele representa não uma lembrança, mais uma eterna saudade que está também na companhia de nossa querida Ivani a quem chamei Ivani de saudade, a menina moça que sempre que chego no HCWC (hospital das clínicas) me vem também àquela lembrança e saudade!! Pai do adeus e a filha da saudade! Ô lembrança! E por aí vão as recordações ...Meu tio Cícero, minha tia Irene, meu vovô João! Todos da terrinha do papai. Rio grande do Norte, foram alguns anos que convivemos e também nos trás tanta saudade... Um primo distante ou uma tia avó como tia Iaiá, lembra? Que linda vozinha que tive poucas oportunidades de vê-la, mas me encantei com seu jeitinho brincalhão e alegre, Deus te abençoe tia Iaiá!! E já bem mais nova que a maninha da Vovó Elvira, uma criança de pessoa que conheci e aliás nunca esquecerei pois temos algo incomum... Sabe, esta pessoa teria a minha idade, somos do mesmo mês, logo temos o mesmo signo e ainda somos primos em segundo ou terceiro grau e por uma grande coincidência fui trabalhar em frente seu apartamento na grande aldeota, uma cidade tão grande e justamente de frente “seu o prédio” era a lojinha que eu trabalhava. Estou falando da grande e inesquecível Silvana, que precocemente partiu deixando um grande vazio em seus amigos e principalmente em sua mamãe que com certeza seu coração ficará para sempre ferido e acredite, a cada cantinho, cada lugar ou mesmo aquela roupa ou prato preferido que lembra Silvana, terão também o conforto de Deus em seus momentos de dor e com certeza de uma eterna saudade! Descanse em paz minha prima e amiga Silvana...

Assim, forma-se essa coletânea diferente, esse retrato “vivo” de amor, essa paisagem de sentimentos e saudade, um místico de lembrança e carinho... Um momento enfim para refletir e reviver, embora numa imagem de sonho aqueles momentos de alegria e felicidade que nosso ente querido nos proporcionou, e que em vida nos deu o prazer de seu grande e eterno amor!!

Que a graça e compaixão do SENHOR seja de conforto e superação... Ô saudade!