Aboiador

Exaurido procurando pelos poetas nas multidões foi quando optei que iria procurá-los nos sertões! Não precisei de muito tempo para o encontro aureoso com o abôio mojubá.

Comecei pelo solar do inhão porto abençoado, o berço de nossa nação! Pra minha sorte descobri que ali desembarcou uma tribo inteira de “malês” africanos brancos de origem e religião mulçumana, sabiam ler e escrever em árabe para infortúnio dos “coronéis” se comunicavam assiduamente através de cartas abertas (bilhetes) e para não perderem os contatos logo de imediato formaram uma “república” islâmica em pleno sertão.

Informaram-se e ficaram sabendo que os “quilombos” não sobreviveram devido ser um grande “alvo fixo” e estes “pastores” nômades continuam ali até hoje! Não dependem de nossa sociedade para sobreviver, não lhes interessam o que nós achamos ou deixamos de achar. Seus filhos se espalharam Brasil afora anonimamente e continuam contando suas histórias de “aboio” ou seja pastoreio! Ali nasceu a palavra “abôio” que significa tanger, conviver e conversar assiduamente com o rebanho “nômade”! Ali também nasceu a palavra “aboiador” que significa “poeta repentista”! O poeta que declama uma poesia de sua autoria em cima de sua vitória sobre a seca, ou uma vitória sobre um boi “arribado” ou seja um boi que desgarrou do rebanho, tentando ser independente de seu “dono” e pastor!

Esta mistura de raças ainda continua ali. O índio do sertão, os europeus de olhos verdes e os “árabes” malês africanos brancos! Eles dominaram a “seca”, domesticaram os bois arribados! Aqueles pastores nômades, homens “brancos”, olhos verdes todo queimado do sol, a marca do chapéu na testa e sua filosofia de vida independente.

Três escritores apostaram todas suas fichas no “abôio mojubá”, todos os três se transformaram em escritores planetários. Graciliano Ramos partiu para o plano espiritual muito jovem e não recebeu os “louros” em vida. Guimarães Rosa recebeu os louros e partiu três dias depois. Mas Ariano Suassuna recebeu os louros ainda com vida imortalizaram o “aboio mojubá” a cultura da mistura de várias etnias dos contadores de histórias.