PRONOME POSSESSIVO

Caso alguém se dedique a observar textos escritos em prosa ou verso, desde uma simples redação escolar até um texto acadêmico, notará, por certo, a frequência do uso dos pronomes possessivos, especialmente o pronome MEU e suas variações.

Não se tente explicar mais esse fenômeno, pois a Psicologia o tem feito de maneira muito plausível. Entretanto, convém lembrar a quem escreve que evite o mais possível usar, principalmente o pronome acima destacado e suas variações.

É bom, como o disse Cazuza, “baixar a bola”. Nada é seu, nem meu. Tente nosso e vosso; seu. Sendo nosso e vosso, compartilha-se. Sendo seu, entrega-se, doa-se. Bom também é “da gente”, como se usa aqui em Aracaju: “Esta casa é da gente”, “Este carro é da gente”. A mulher, não. O marido, pior ainda. Como são possessivas as nordestinas com a boca cheia de “Meu marido”, “Meu esposo”.

Quando falam passam a impressão de que se referem a um tesouro. Já o marido diz orgulhoso: “Esta é a minha mulher”. Se a mulher for bonitona ou braba que só a peste. Aí é a patroa, a polícia. Se a mulher é simples, murchinha, aí ele fala desconfiado e evitando: “Minha esposa...”

Não há quem agüente tanto meu: meu curso, minha faculdade, meu apartamento, minha namorada, minha noiva, meu pai, minha mãe, minha ex-mulher, meu dinheiro, meu cheque, meu cartão, e até meu banco. Aqui somos todos banqueiros. Que riqueza!

Existe uma antiga canção brasileira que tem uns versos assim: “Pois eu tenho o destino da lua/ que a todos encanta/ e não é de ninguém”. Para rimar, diga-se: Muito bem! E outra diz: “Ninguém é de ninguém,/ na vida tudo passa”. Quanta razão nos versos de composições poéticas, até mais do que em tratados científicos.

Para fechar acrescento a Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade. Vale notar que quadrilha é algo coletivo, democrático e permite a troca entre damas e cavalheiros. Claro que me refiro à dança folclórica nordestina.

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.