O CRIME NÃO COMPENSA?

Estamos acompanhando pelos meios de comunicação nos últimos dias que o nosso país é o que podemos chamar de Nova Palestina. A rebelião do crime organizado estourou para mostrar o poder paralelo que elementos espúrios têm em nossa sociedade.

No espetáculo, mais mortes do que a briga entre “primos” no Oriente Médio, mostrando que o crime está mais organizado do que o próprio Estado brasileiro. De um lado, uma força policial com revólveres calibre 38 na cintura, colocando em risco suas vidas por míseros reais; do outro lado, bandidos aparelhados com armas modernas, comandados por indivíduos, pasmem, protegidos pelo próprio Estado de suas gangues rivais, gastando com um preso mais do que um mísero salário mínimo recebido mensalmente por um aposentado ou trabalhador, e mais revoltoso ainda, repassando às escolas, diminutas verbas para merenda (migalhas que não chegam a um real mensal por aluno).

Você já deve ter sentido na pele o quanto é difícil adentrar em um banco por suas portas giratórias, e como eu, deve estar se perguntando: como se consegue entrar com celulares e armas em um presídio de segurança máxima?

A coisa ficou tão preta que partiram para o “toma lá dá cá”, ou para ser mais claro, olho por olho e dente por dente; depois de dezenas de policiais mortos, o troco de centenas de bandidos assassinados, até os grupos de Direito Humanos “acordarem” e botarem a boca no trombone; o engraçado é que enquanto se matavam policiais se quer deram um parecer. Queremos lembrar que o termo Direitos Humanos não se restringe somente a ações contra condições desumanas nos presídios, mas devem abarcar também, a condição desumana em que passa qualquer cidadão, como crianças sem acesso ao ensino de qualidade e boa alimentação, idosos sendo tratados como lixos humanos, o trabalhador que ganha um salário de fome e é tratado de forma subumana, etc., etc.

Na realidade toda a sociedade tem uma participação relevante nesta erupção de violência. Nossas forças policiais são completamente desunidas, desaparelhadas e despreparadas para o combate ao crime organizado. No Brasil são 8.000 policiais federais tendo inclusive de fazer o papel de polícia de fronteira - que não é sua atribuição-, por onde entram armas de última geração para equipar as facções criminosas. Para se ter uma idéia, só na costa sul dos E.U.A., fronteira com o México, o contingente de policiais específicos para guardar aquela divisa ultrapassa 15.000 homens. Por lá, bandido não tem moral nem aparece em capa de jornal, pelo contrário, muitos são aqueles que querem ser policiais em função dos bons salários e do status de ser mocinho; enquanto que no Brasil ser bandido é a onda do momento: poder, mulheres, armas sofisticadas, carrões e mais, quanto pior a bandidagem, mais chances de ter o retrato estampado nos meios de comunicação (vira capa de revistas e de jornais de grande circulação).

Os políticos, que ganham salários altíssimos, se comparado com a média salarial brasileira, tem dinheiro para pagar segurança privada e vivem fazendo propaganda política mentirosa, mostrando a aquisição de novos equipamentos para as forças policiais enquanto que a própria iniciativa privada tem, muitas das vezes, que ajudar na reforma de veículos, manutenção e combustível para poder funcionar, e pior, bandido por aqui anda de jatinho, avião de carreira e carros possantes, enquanto que policiais são obrigados a circular com carros populares. O dinheiro público (o nosso dinheiro) no Brasil é só para abastecer os dutos da corrupção, pagar verbas de gabinetes (tem político que chega a gastar só com “ajuda de combustível”, mais de 5.000 reais mensais), passagens de avião, e etc. causando inveja e raiva a todo cidadão que tem que acordar de madrugada para trabalhar e pagar a mordomia dos bandidos.

O cidadão comum continua votando em políticos que nunca fizeram uma proposta concreta de um Plano de Segurança Nacional de combate ao crime ou a reforma do Código Penal, que ultrapassa a casa dos 60 anos de idade.

O Poder Judiciário, abarrotado de processos, sem estrutura mínima digna para trabalhar é obrigado a hibernar em seus precários gabinetes, pois não podem contar com a liberdade de colocar na cadeia os verdadeiros bandidos da nação.

O sistema carcerário é uma verdadeira escola do crime, não consegue cumprir o primordial papel de ressocialização de seus apenados, mas tão somente ensinar o chamado “ladrão de galinhas” a cometer atos criminosos hediondos e mais ilícitos.

Do jeito que vai a coisa, a máxima que apregoa que “o crime não compensa” está a cada dia mais em baixa e o pior, daqui a pouco ao perguntar para nossas crianças o que querem ser quando crescer, elas responderão em alto e claro tom que querem ser chefe de facção criminosa ou político corrupto, pois eles têm, além de poder, muito dinheiro e a proteção legal.

* Publicado pelo autor no Jornal Chico em 04.06.2006. para ler mais textos do autor acesse: http://www.webartigos.com/